domingo, 27 de setembro de 2009

Ciencine: uma imersão na arte e na ciência

Fábio Almeida levou para o II EWCLIPo uma discussão sobre filmes usados para compartilhar a ciência. Ele que é produtor e diretor de filmes e vídeos, investiga como a ciência tem sido levada para a tela e se envolve na produção de filmes de ciência. Ele também é um dos curadores da Ciencine, uma mostra de filmes no Instituto Biológico de São Paulo que apresenta obras que tratam temas contemporâneos como LHC e física quântica. Além dos filmes, as mostras também incluem discussões com especialistas para um público que inclui profissionais e demais interessados na interface ciência e cinema.

O Instituto Biológico de São Paulo é ligado à Secretaria de Agricultura e já foi dirigido por José Reis: uma espécie de blogueiro, segundo Fábio que considera Reis o criador de um modelo de divulgação científica onde a informação pudesse informar a sociedade o mais rápido possível.


Ao traçar afinidades entre a ciência e o cinema, Fábio ressaltou que ambos começam com a observação. Ele explica que a ciência e o cinema, mesmo que pareçam dissociados, são aliados capazes de integrar as percepções humanas num só conjunto: razão e emoção. Ele cita Virgílio Tosi para afirmar que o real nascimento do cinema não está na invenção e desenvolvimento do espetáculo cinemático. Ou seja, o que determinou a descoberta do cinema foi a necessidades de pesquisas científicas em busca de técnicas para gravar a realidade física em seu aspecto dinâmico com o propósito de análises, descobertas e entendimento. O cinema científico, nascido muitos anos antes do cinema do espetáculo, constitui a base histórica para a linguagem de imagem em movimento. Os cientistas do pré-cinema buscavam perceber e comunicar por meio dos código cinematográficos de modo a dar conta da vida em movimento para estudá-la amplamente. A ousadia era capturar o gestual, o verbal, o escrito, o plástico e o representacional

Um bom exemplo é Etienne-Jules Marey, biólogo que viveu antes do advento do cinema e criou uma quantidade enorme de máquinas e mecanismos que possibilitaram a descoberta de Lumière. O objetivo de Marey e seus contemporâneos era registrar e estudar o movimento . Eles usavam gráficos e aperfeiçoavam máquinas fotográficas buscando registrar a instantaneidade do movimento. As descobertas dessa época servem de ponto de partida até hoje nos trabalhos de animação e pintura de animais em movimento.

O advento de uma máquina de animação, que permitia fazer várias fotos sucessivas e depois reproduzia de modo a criar uma animação é também mérito de Marey. Em outras palavras, cientistas foram os pioneiros ao desenvolver máquinas que decifraram o mistério movimento.

Fábio discorda dos autores que defendem que os cineastas científicos não contribuíram com a linguagem do cinema. As imagens de arquivo revelam que os cientistas, além de construir máquinas, traziam uma preocupação estética em seus registros. Fábio exibiu alguns desses filmes e mostrou como tais registros trazem o enquadramento cinematográfico, em plano americano que seria a base do cinema de ficção que só passaria a usar tais planos 20 anos depois.

Estudando a origem do cinema como linguagem e mecânica, Fábio pensa no cientista contemporâneo, postando em seu blog. Não é possível reproduzir simplesmente as informações que escolhemos para publicar ou não seremos capazes de desmascarar grandes verdades, como no caso de Lumière a quem costumam atribuir méritos que pertencem aos cientistas. Por isso, um blogueiro que divulga ciência deve encará-la com disposição para o aprofundamento.
Fábio acredita que o avanço e a popularização de câmeras e outros equipamentos digitais permitem recursos ao blogueiro cientista contemporâneo que podem deixar seu blog ainda mais instigante.

Para mim, o mais interessante dessa palestra foi ouvir que, ao contrário do que é divulgado, os cientistas, muito antes de Lumière, tiveram um importante papel na história do cinema. Me fez pensar no que teria acontecido se as engenhocas dos cientistas não tivessem sido criadas o que promoveria como seria possível o advento do cinema? Melhor foi saber que meus pares antepassados também se deram conta de que cinema é linguagem e que a arte é forte aliada da ciência. Assim como eles se apropriaram da arte no estudo da anatomia e dos movimentos dos corpos, imprimindo beleza nos planos que escolhiam para seus registros científicos, nós cientistas contemporâneos nos apropriamos de linguagens diversas para divulgar a ciência.

Cine & Foto - Submarino.com.br

5 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Ótimos posts sobre o EWCLiPo!

fábio almeida disse...

Oi Silvania, que bom conhecer você e sua linda família!

Fiquei impressionado com sua capacidade de captar a informação e sua clara redação sobre todo o assunto. Como eu estava pressionado pelo tempo pensei não ter comunicado alguns pontos. Mas a sua compilação provou que o mais importante foi falado. Fico mais tranquilo... :)

Sobre o texto apenas uma informação eu não deixei claro, José Reis foi pesquisador da área de ornitologia. Aliás foi ele quem "montou" esta palavra, antes era usado outro termo, não lembro agora, mas que não descrevia o real teor da atividade de pesquisa das doenças das aves.

Bom, muito bom tudo isso, todo esse encontro! Vamos nos falar e trocar boas idéias.

Isis disse...

Silvania, não vi a palestra, mas pelo seu post consegui um ótimo resumo. As pessoas se esquecem que o cinema nasceu da ciência. Abraços

Isis disse...

ops, esquecem. sem o "se".

lacy barca disse...

Silvania,

Adorei seus posts, principalmente este sobre o Ciencine e a palestra do Fábio. Você escreve lindamente.
Bjs,

Lacy