sábado, 26 de setembro de 2009

Escrita e sabinas na busca da criatividade e da inovação


Na primeira palestra do II Ewclipo, Encontro de Weblogs Científicos em Língua Portuguesa, ouvi Mauro de Freitas Rebelo falando sobre a escrita criativa. Mauro oferece uma oficina de escrita criativa em Ciência na UFRJ e ressaltou que escrever, desde uma resposta de prova até uma dissertação de mestrado, exige a prática da escrita.

Ao analisar as produções textuais de alunos, Mauro detectou vários problemas que comprometem a escrita criativa: a imitação, a superficialidade, a técnica, a qualidade/critério, a caretice, a inovação, a criatividade e a preguiça. Ele considera que a escola é responsável por esses problemas, uma vez que em todos os segmentos, a imitação é a regra: estimula-se a observação das estratégias que os autores usaram para que os alunos reproduzam tais "coisinhas" em seus textos. Como educadora, me incomoda quando colocam na conta da escola todos os males. Afinal, a escola não forma sozinha: a escrita é uma conquista que exige disciplina e vontade do sujeito, bem como o acompanhamento e o estímulo da família.

Mauro ressaltou que, embora a sociedade contemporânea conviva com um impressionante volume de informação acumulado ao longo da história, destacando os dois marcos desse processo que foram a invenção da imprensa (1442) e o advento da internet (1993), a maioria dos textos produzidos são superficiais. Para que o blogueiro não sofra desse problema, Mauro sugere como estratégia que os autores escolham no mar de informações o que realmente interessa e que sigam o protocolo:
  • Escrever é sobretudo, reescrever. Lobo Antunes
  • Um escritor tem que trabalhar 10 h por dia 2 para escrever e 8 para corrigir - Horácio Flacco
  • A palavra não é a casa da mãe Joana - Sonia Rodrigues
  • Um livro tem de ser eficaz - Tolstoi
  • A técnica deve servir a eficácia - Lobo Antunes
Mauro lembrou que na geração dos anos 80, o audiovisual tinha enorme importância. Com a internet a palavra volta a ganhar relevância. Mas em meio à avalanche de textos publicados, como avaliar se o texto tem ou não qualidade e como construir o conceito de qualidade? Em um determinado grupo, a escolha do melhor e do pior texto é quase uma unanimidade, porque tal grupo já possui seus padrões estabelecidos. Por outro lado, o conceito de qualidade muda de acordo com o meio porque as referências do que é qualidade são construídas coletivamente.

Para Mauro, o problema da chatice do texto tem a ver com a superficialidade e a imitação. Ele criticou a incompreensível e tediosa fórmula usada nos artigos científicos tradicionais. Em seguida mostrou duas obras de arte: David de Michellagelo (1504) e O Rapto das Sabinas de Giambologna (1582) perguntando qual dessas obras poderia ser considerada inovadora. Mauro explicou que, com inegável técnica Michellangelo reproduziu o de sempre: uma estátua com frente e verso. Ao contrário de Giambologna que preferiu fazer uma composição em espiral, permitindo com que cada ângulo da escultura pudesse ser observado.

Aprendi nessa palestra que a criatividade vale mais que informação, ao mesmo tempo, dominar a técnica implica em respeitar o princípio básico das coisas. Assim, para escrever no blog ou em outros suportes sérios deve-se primeiro submeter as idéias do texto a um exame intelectual criterioso antes de ser colocada a prova experimentalmente. Haverá um dia em que os blogueiros poderão viver de blogs e terão um tempo razoável para fazer uma pesquisa rigorosa antes de colocar seus textos na nuvem. Antes que isso aconteça, nossos leitores terão que ter um pouco de paciência.

Mas será que os escritores sabem explicar como eles fazem para escrever seus texto? Mauro acredita que não: em geral, os escritores usam a Regra Post hoc, ou seja, se preocupam com as regras depois do texto pronto. É possível que mais gente escrevesse se a escrita fosse estimulada sem priorizar regras: os autores colocariam no papel o que lhes parecesse correto para só depois pensar na forma culta. O texto precisa da regra, mas depois de escrito.

Se você, como eu, estiver interessado na Oficina de escrita criativa em ciências, saiba que ela acontecerá de 25 e 29 de outubro, 99 no IBCCF/UFRJ

2 comentários:

Luis Santos disse...

Seu texto é como a estátua das sabinas. Flui pelos olhos e pela mente. Se a escola é a responsável pela boa escrita, você foi a melhor aluna!

Alessandra disse...

Muito bom! gostei demais do que escrevestes. A criatividade, eu acredito, só aparece quando a gente consegue relaxar das regras. Lembrei de alguns alunos que queriam escrever monografias de jornalismo aplicando colagens, páginas rasgadas etc. E eu dizia, "sabe as regras da ABNT? pois é, infelizmente são implacáveis,então escreva de duas formas: a que vc gosta e a tradicional e apresente." dois ou três fizeram isso e surpreenderam as bancas. =)