domingo, 9 de março de 2014

A lição da Campeã do Carnaval do Rio 2014

Não sou tijucana e a minha escola preferida não é a Unidos da Tijuca. Na verdade, vui ao sambódromo ontem especialmente para ver a queridíssima União da Ilha que estava gloriosa. Mas isso não impediu que eu aprendesse com a campeã.

A grande sacada do carnavalesco Paulo Barros - que já deu essa lição outras vezes, mas as escolas irmãs parecem não entender - é valorizar o quisito gente. Desconfio que não foi o herói fabricado pela Globo que deu o título: qualquer tema funcionaria com aquela moçada.

Os carros da Tijuca não eram os maiores nem os mais luxuosos, mas havia gente visivelmente motivada a brilhar junto. Os integrantes da bateria, por exemplo, vestiam um simples macacão, que nos dava a chance de admirar a habilidade dos músicos. Outras escolas optaram colocar tanta tralha em cima dos percursionistas que era difícil ver que tipo de instrumento era tocado.

Os componentes da Tijuca brincavam como velhos amigos: em sintonia e com muita alegria,  dançavam no chão ou nas alegorias que compunham os carros. A escola foi, disparada, quem mais investiu tempo em ensaios. Essa preparação do grupo enriqueceu as alas que reproduziam movimentos em conjunto - a coreografia não era rebuscada, mas contagiava as pessoas da arquibancada que já estavam cansadas porque aquele era o último desfile e o dia clareava.

Transferindo essa mesma lição para uma empresa ou  uma escola, um bom gestor é o que promove a auto-estima e valoriza as pessoas como parte impressindível da engrenagem que compõe a história da instituição. Por mais dinheiro que se gaste em tecnologia, o apogeu da força dramática e da capacidade de articulação  é o próprio ser humano.  Vale investir no grupo, não apenas em um ou outro cargo de chefia, nas na equipe para que ela mostre o que sabe fazer e articule ações que surpreendam o mercado. Ao apreender a lição da Tijuca, sua equipe chegará na frente se cada funcionário estiver ciente da importäncia do seu papel e do papel do outro.


domingo, 2 de março de 2014

Carnaval na Lapa: diversão para quem?

Não perco a oportunidade de ouvir boa música e isso inclui algumas marchinhas. Mas nesse carnaval estou me sentindo ilhada em plena Lapa. Simplesmente não tenho disposição para a sujeira que está espalhada pela cidade, principalmente pelo meu bairro.

Tenho a sorte de contar com a companhia de duas crianças e para preserva-las dos malucos que transitam e não respeitam ninguém, decidi  ficar em casa.  Eu já encarei alguns bloquinhos com elas em outros anos, mas nunca me senti tão receosa. É uma pena porque gosto do carnaval de rua. Os cariocas têm um humor único que ficam evidentes nas fantasias: tem coisas de morrer de rir. 

Como diria nosso Paes: evitem o Rio de Janeiro! Particularmente prefiro, evitem o prefeito, mas tenho que reconhecer que dessa vez o problema não é só ele. É muita gente, muito lixo, muita loucura... É como se o direito de se divertir fosse maior do que qualquer outro direito. Parece que os foliões não foram educados à usar lixeiras, à proteger as crianças e os idosos e que são incapazes de compreender que as pessoas que residem nesse bairro também merecem ter sossego. Duvido que boa parte dos estrangeiros que circulam por aqui agiriam da mesma forma em seus países de origem. Duvido ainda mais que os brasileiros que berram e sujam o meu bairro se comportariam dessa forma em outros países.
 
 
 
 
 
 
 
 
 


Pra não dizer que não pulei o carnaval 2014, hoje rolou um baile no meu condomínio e eu pude levar as crianças.  Ainda bem que tenho uma vizinhança ímpar que organizou essa folia para suprir o meu desejo de pular o carnaval com minhas pequenas. Lá as pessoas estavam se divertindo muito, e assim mesmo, respeitando o espaço de todos.  Foi uma delícia ver as meninas felizes, com fantasias leves pulando e interagindo com a vizinhança. Pessoas muito especiais, que deveriam ser respeitadas por todos aqueles que costumam visitar ou trabalhar na Lapa e também pelo subprefeito e seus assessores. Afinal, escolhemos morar nesse bairro porque amamos aqui.

    

sábado, 1 de março de 2014

Escola Pública não é bicho papão

Hoje eu estava comentando com amigos sobre a coragem de colocar um filho em uma escola pública. Muita gente está migrando os herdeiros para o ensino gratuito: eu inclusive. Uma das razões é pra que eles não herdem o amargo endividamento dos pais: as mensalidades estão cada vez mais sem noção!

 Driblar o medo do sucateamento do ensino público pode não ser uma má ideia. A comunidade escolar tende a ser melhor, quanto mais pais instruídos participarem ativamente dela. É claro que isso vai exigir um considerável esforço pra correr atrás do que não estiver sendo dado. Mas isso também pode significar crescimento porque a família terá que incluir programas culturais e viagens em sua agenda.  É bem possível que sobrem tempo e dinheiro pra isso. Se o casal tiver dois filhos e morar no Rio de Janeiro, a economia é de cerca de dois mil reais por mês. Imagine se a metade disso for investido na  formação (essa sim global) da família?

Além disso, tem muita coisa pra criança aprender em uma escola pública, por exemplo, que ela não é o centro do Universo. Dificilmente haverá gente passando a mãozinha na cabeça do seu filho. Tudo o que é demais sobra: mimos inclusive!

Esse ano eu tenho levado as minhas duas filhas à escola. A rotina de acordar e dormir muito cedo e passar mais tempo juntas tem nos feito maravilhosamente bem. Quando chegamos na escola da minha mais velha, agradecemos à Deus pelo mar prateado que nos saúda no Forte da Urca. Se por um lado ela estranha a facilidade de algumas matérias, agora ela convive com uma realidade muito mais próxima da realidade dela. Um pouco de pé no chão é fundamental na infância. E não acho que tenho que temer algo em relação ao conteúdo: estou segura quanto à competência dos meus colegas de trabalho.

A escola da minha filha mais nova homenageia a professora Sarita Konder, uma educadora que deixou um legado para o ensino infantil: a própria casa onde ela viveu. As instalações são primorosas e os profissionais são cordeais e bem preparados. A mesma professora que leciona em uma das escolas mais conceituadas do Rio está atuando lá, sendo que para trabalhar nessa instituição, ela teve que prestar concurso.

Enfim, reconheço que essas duas realidades de escolas não são a regra do ensino público no Brasil. Mas também penso que, com tantos impostos, todos podem exigir mais do que tem feito e ocupar o espaço público, sem medo de ser feliz. Para pensarmos juntos: a quem interessa que as escolas sejam tão caras? E ainda: que relação existe entre o medo da escola pública e o valor cobrado no ensino privado?