domingo, 30 de setembro de 2012

TDAH ou carência de atenção?

No último sábado, o médico José Outeiral  foi o convidado da XXI Jornada Pedagógica EscolasRio. Esse texto é uma tentativa de partilhar as lições que ele ensinou a mim e aos educadores presentes, com muita leveza e bom humor.

Para Outeiral, o professor tem lidado com uma enorme complexidade de conhecimentos,  entrelaçada em muitas áreas do saber e por isso ele não pode se acomodar.

"Quem observa um cubo enquanto está sentado, só enxerga três lados desse cubo. Um aluno é bem mais complexo que um cubo, por isso, ao se restringir na própria disciplina, o educador limita a visão  dos diferentes ângulos onde ele poderia atuar".

Como a escola vai cumprir a tarefa de promover a saúde e prevenir doenças  se essa instituição está inserida em uma sociedade que expõe a vida da criança  à extrema violência? Atualmente, as maiores causas de morte infantil são: acidente, suicídio e homicídio - sendo que em São Paulo, homicídio é a primeira causa de morte entre 5 e 15 anos!

Outeiral destacou que NÃO é tarefa da escola usurpar a família,  por outro lado, em algumas situações caberá ao educador assumir a função que em outras épocas eram apenas materna e paterna. Cabe aos profissionais de ensino acolher, cuidar e estabelecer limites. Mas à custa de garantir o emprego, alguns optam pela permissividade:

"A instituição onde o aluno tem sempre razão é um desastre: o limite é fundamental para que os sujeitos exerçam o papel funcional. O corte é estruturante!"


Nas salas, cresce o número de alunos agitados, com dificuldade de aceitar o limite, diagnosticados como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Muitos apenas manifestam seu esforço para  cativar o olhar do adulto para eles. Uma espécie de reação de vitalidade para tentar estimular os pais e educadores aplastados. O uso de medicamentos consegue domar a maioria dessas crianças, mas a organização da atenção poderia se dar simplesmente através da sustentação do olhar: da mãe, do pai, do educador... Por isso, em casa e sala de aula: olho no olho!

" É como aquele brinquedo do burrico desmantelado - a atenção é o elástico! Antes de medicar é preciso investigar se a alteração do comportamento é sinal de dor emocional." 

Outeiral é autor do livro Adolescer e usou parte do seu tempo para discutir a adolescência -período que pode estar situado entre os 12 e 18 anos. Ele explicou que esse  período, passou a ter seus direitos e necessidades considerados entre as duas grandes guerras e que sempre foi um desafio para o educador.


"A adolescência desinventa a infância. Lutar pela preservação  da infância é papel da escola. 
O erotismo precoce submete a criança à estímulos, muitos dos quais elas não estão prontas. Por exemplo, entre em um chat às 16 h e observe se esse ambiente é adequado para as nossas crianças. Elas não podem ficar sozinhas em frente ao computador porque não estão prontas".

Para defender a criança e o adolescente Outeiral recomenda um santo remédio: o brincar. 


"A palavra Brincar vem do latim e significa vínculo. O vínculo conforta e protege contra a violência.  Brincar é um convite para a criatividade e a espontaneidade".

Toda criança nasce com um enorme potencial de brincar e o adulto, ao invés de explorar esse potencial, costuma estabelecer uma rotina onde não haverá tempo para brincadeiras. Mas além de brincar junto, Outeiral recomenda desenhar com a criança. Medidas simples que podem prevenir a carência de atenção que tanto tem enriquecido os laboratórios farmacêuticos. A técnica do rabisco, onde o adulto e a criança desenham juntos é uma opção. Para os pais e professores que acham que não são capazes de desenhar:


"A maioria de nós fomos submetidos à um histórico de apreciações negativas que nos fizeram crer que não somos capazes de desenhar, mas nós podemos!"



No apagar das faixas etárias, se estabelece uma crise de identidade onde além da infância perdida, a adolescência invade o mundo do adulto: espécie em extinção. Outeiral se refere aos adultescente
como um grande número de adultos que não são capazes de abandonar a adolescência: nem no pensamento, nem na estética. Muitos se vestem, falam, pensam e agem como crianças.
Outro desafio que os educadores enfrentam na sua prática é o consumismo. A cultura do descartável, onde o produto é feito para durar pouco, é transferida para as relações. Há uma falência do reconhecimento de que o outro tem algo que possa valer a pena. É um processo de des-subjetização, onde as pessoas/coisas podem ser descartadas! Para prevenir o seu descarte, o educador pode optar pelo autoritarismo e estabelecer uma rotina onde a negligência e a violência se estabelecem.

Nessa escola, onde os valores foram substituídos: o ter vale mais que o ser, desvaloriza-se o tempo, inclusive o tempo interno - subjetivo. A despeito do investimento no tecnológico, essa instituição nem sempre consegue sobrepor à cultura da banalização. Assim como, no nosso cérebro a repetição contínua deixa de ser registrada, nas aulas  repetitivas, o aluno não retém a informação e nem se interessa por ela.

Nessa sociedade da nova erótica, onde a relação entre as pessoas é cada vez mais rápida, fugaz e descartável, cabe a escola construir relações e uma história! Assim, os pais também devem estar matriculados na escola, no sentido de sustentar o sonho, a utopia e o desejo. A fraternidade se aprende, a utopia também.


Enquanto eu ouvia esse psiquiatra falando, me perguntei: quantas crianças que tomam drogas como ritalina, concerta... de fato precisam ser medicadas? Esse médico nos deu a palavra de que não recebe representantes de laboratórios e nem permite que lhe prestem favores como custear congressos ou outras regalias. Infelizmente parece que a regra são profissionais de saúde que banalizam o uso desses medicamentos - a troco de que? Quantas vezes a escola - nós educadores inclusive - estimula essa medicação exacerbada, ao encaminhar os "desajustados" para um diagnóstico, quase como condição para a permanência do aluno na escola? Como será o futuro dessas crianças sossegadas quimicamente? E os jovens que estão usando Metilfenidato para dar conta da pressão do vestibular?

Também me perguntei: o que eu, como educadora, posso fazer para construir uma história que valerá a pena ser lembrada e para dar a atenção que os meus alunos merecem? 

domingo, 23 de setembro de 2012

As mil folhas do seu amor


Em uma cena da nova novela das 6 o padre escutava a noiva dizendo que não amava o futuro marido e, pouco depois, o noivo dizendo que também não amava a futura esposa. Temendo que o casal desistisse da cermimônia e que sua igreja ficasse desmoralizada, o padre manteve o silêncio. Fiquei pensando o que aconteceria se os padres, pastores e afins, no momento da cerimônia, aconselhassem os noivos a não se casarem se não tivessem certeza do amor que sentem um pelo outro. Quantos casamentos seriam desfeitos ali mesmo, no altar? Talvez por ser inerente à condição humana duvidar, repensar o sentimento de acordo com o estado de espírito - seu e do outro - ou das circunstâncias.

Essa falta de coragem de se posicionar - de quem celebra e de quem se casa - pode explicar a incidência dos divórcios. Sem falar dos casamentos que acabam sem que as pessoas se separem de fato. É tão comum duas pessoas permanecem juntas por teimosia, comodidade e/ou necessidade. Entre esses casais há os que parecem ter nascido um para o outro mas por serem incapazes de ceder, não chegam a um acordo e estão em um moto-contínuo de discussões.

O casal da novela das seis tem se descoberto e se encantado aos poucos.  A convivência dos dois tem sido como aquele doce mil folhas, onde o enredo vai incluindo aqui e ali,  uma camada de respeito, outra de admiração, ternura, cumplicidade, desejo... E assim, o amor dos protagonistas vai sendo edificado.

Para além da ficção, acredito que os casamentos reais dependem dessa construção, que demanda paciência, vontade e muita disposição. Não há amor que sobreviva à rotina e ao tratamento truculento. Basta prestar atenção no que você costuma fazer quando chega em casa: se antes de dar atenção ao seu amor, você canaliza o foco nos filhos, no trabalho que você levou para casa, nos problemas domésticos ou no mundo virtual - facebook... talvez a construção do seu relacionamento esteja em risco de desmoronar. E você não vai fazer nada?