quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Como ganhar dinheiro com o seu blog?


Vida de blogueiro não é nada fácil: temos muito trabalho não remunerado e pouco reconhecimento de nossos pares e da chamada mídia oficial. Mesmo assim, começam a pintar autoridades da blogosfera: gente que vive disso e que é respeitada. Um exemplo de blogueiro de sucesso é Carlos Cardoso, por isso ele não poderia faltar ao II EWCLIPo. Além de seu blog pessoal, ele mantem um dos populares blogs nacionais, o Contraditorium, e é membro da equipe do Meio Bit.

Seus blogs dele não são exatamente de ciência, embora ele costume tratar o tema. Para Cardoso, a grande vantagem do blog científico é permitir que assim que uma pesquisa de ponta é divulgada, as pessoas possam dialogar com o pesquisador autor de blog. Cardoso é jornalista, especialista em mídias sociais e tem onze livros publicados: um nerd assumido!

A palestra dele foi divertida até no título: Tudo que você sempre quis saber sobre blogs profissionais mas nunca teve coragem de perguntar a Darwin. Ele começou lembrando dos primeiros passos que deu na blogosfera, ainda na década de 90, quando o espaço oferecido pelos servidores era reduzidíssimo e ainda não havia interatividade. Para ele, o grande salto nessa caminhada foi quando o leitor pode interagir com os textos através dos comentários.

Existem blogs para todos os gostos: diário pessoal, vitrine profissional, divulgação de hobbys ou denúncias, cabides para os internaltas pendurarem aquilo que eles chamam de "achei na web" e outros. Cardoso prefire blogs de que geram conteúdos, especialmente o metablog, o blog que fala de blogs, fazendo circular informações que servem de material de textos para o próprio blog. Ele nos fez rir da idéia do blog coletivo: aquele que reúne um monte de gente sem tempo onde ninguém escreve; mas tem 10 autores. Ele também alfinetou o Personal Carl Sagan, que transforma todo mundo em divulgador científico. Ah, que maldade!

Para falar de marketing na blogosfera, Cardoso apontou algumas possibilidades de remuneração:

Ganho indireto:
  • o blog é uma vitrine que pode gerar propostas de emprego.
Ganho direto:
  • posts pagos: uma empresa contrata o blogueiro para escrever sobre um produto. O autor deve deixar claro que trata-se de um texto publicitário e que portanto, não necessariamente reflete a sua opinião;
  • banners: serviços oferecidos pelo adsense, UOL, Yahoo! e outros serviços que geram publicidade automática, de acordo com o conteúdo publicado. Não dá trabalho ao blogueiro, mas rende pouco;
  • links patrocinados (HOTWords, Buscapé, Jacotei);
  • pagamento por associados (Mercado Livre etc.). Cada associação nova rende cerca de 12 reais. Problema: dá trabalho e como todo mundo tem mercado livre, não vale muito a pena;
  • comissão passiva: Mercado Livre (comissão de venda);
  • comissão ativa (Submarino) como os valores são mais altos, a comissão é significativa;
  • consultorias.
Cardoso desaconselha a pesca predatória: ao clicar você mesmo nos anúncios do seu blog ou pedir para pessoas clicarem, você usa uma estratégia que não funciona e seu blog perde credibilidade.

Ele advertiu que quanto mais lucrativa é a ferramenta, mais trabalho ela gera ao blogueiro. Como diria a minha avó: rapadura é doce, mas não é mole!

Uma dica importante é que livros geram excelente comissão. Por isso, Cardoso sugere usar links do submarino ou outros ao publicar resenha de livros. Pretendo seguir esse conselho: meu cofrinho e as mães que querem incrementar a biblioteca de seus filhotes agradecem!

Cardoso citou como estratégia eficaz análise de filmes e livros da moda, oferecendo ao leitor diferentes pontos de vista e a possibilidade de comprar o produto.

Ele também trabalhou o conceito de visitantes legítimos, aqueles se interessa pelo que encontram no blog e os paraquedistas: aqueles que cairam no seu blog por engano. São esses últimos que costumam gerar clicks rentáveis. "Todos sonham com visitantes legítimos, que deixam excelentes comentários, mas a maioria dos visitantes é de paraquedistas: Trolls, Salsinhas, Fundamentalistas, Teóricos da Conspiração e outros visitantes unicelulares."

Cardoso ensina que os Trolls devem ser ignorados porque entram apenas para brigar: apague os comentários ofensivos e esqueça que ele exista!

Ele chama de salsinhas, aqueles que enviam comentários com bobagens. Diferem do usuário leigo porque esse tem vontade de apreder. Os salsinhas servem de catarse: desejam todo mal do mundo em nome do amor. As vezes ele mantém os comentários dos salsinhas por fins cômicos

Fundamentalistas são aqueles que têm uma idéia e não abrem mão dela — eu conheço vários blogueiros assim. Os piores, na opinião de Cardoso, são: ateus radicais e militantes. Realmente, esses são chatíssimos!

Ele lembra que se um post ou um comentário gerarem uma sensação de ofensa no leitor, o blogueiro pode ser processado. A sua resposabilidade legal não está apenas nas coisas que o blogueiro escreve, mas em tudo o que os outros escrevem também. Portanto, limpar os comentários inadequados é importante para quem quer sobreviver na blogosfera.

Teóricos da Conspiração é outra categoria de visitante que se caracteriza por nunca estarem satisfeitos: sempre terão novas conspirações. Para Cardoso, a conspiração inspira temas interessantes.

Portanto, para conquistar e manter os visitantes, Cardoso sugere práticas como: produção de conteúdo, discussão de assuntos em ênfase na mídia, análise de programas da TV e do cinema; redação de comentários em outros blogs.

Ele também apontou algumas falhas recorrentes entre os blogueiros: aqueles que querem chocar por chocar, (se quiser chocar, busque contexto); os que usam o paradoxo Jabor e reclamam de tudo: esse tipo de blogueiro rapidamente se transforma em um chato (faça crítica equilibrada — de algo que vc gosta).

Cardoso terminou sugerindo maior integração com outros blogs, inclusão de formulários de contato, de mini-currículo, de uma política de comentários bem definida e da definição da linha editorial. Mas o que mais importa para ele é que a atividade seja divertida: "faça porque gosta!"

Informática - Submarino.com.br

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Blogueiros e Jornalistas: unidos na divulgação da ciência




Esse simpático desenho de Mariana Massarani me fez lembrar da palestra de Bernardo Esteves, representante da revista Ciência Hoje no II EWCLIPo. Ele falou sobre o avanço da internet e a crise da mídia impressa que provocou no mundo inteiro a extinção em massa de veículos informativos.

Na medida em que a internet em banda larga amplia seu número de usuários a crise na imprensa se agrava: a circulação de jornais cai vertiginosamente e o jornalismo científico também sofre. Por outro lado o aumento do número de blogs científicos é um convite para que mais cientistas construam seus blogs. Esses novos autores de ciências trazem lições importantes aos jornalistas veteranos como o espírito crítico: alguns jornalistas deveriam ter vergonha de publicar certas matérias; a originalidade: os jornalistas costumam ficar presos em regras e por isso muitos leitores preferem a escrita natural dos blogueiros e o uso hipertexto: os grandes portais da imprensa simplesmente ignora os links.

Bernardo nos contou que o blog da Ciência Hoje, que será lançado nos próximos dias, primará pela transparência, trazendo um link para cada página que foi útil para a preparação do texto. Ele defende que quando o blog é um filtro que aponta para fontes interessantes, ele ganha a credibilidade de seus leitores.

Por outro lado, Bernardo ressaltou que os blogueiros também têm muito a aprender com os jornalistas, principalmente em relação ao equilíbrio na abordagem de um tema. Para ele, o estudo de um tema e a capacidade de ouvir opiniões divergentes pode oferecer um panorama rico na medida em que a questão é tratada em diferentes ângulos: ele tem razão, as vezes nós blogueiros nos apaixonamos por um tema e não conseguimos enxergar o que há no outro lado da questão. Além disso, os blogs deveriam buscar maior abrangência de modo a sair da superficialidade - mas o tempo às vezes é tão curto! Outro ponto importante na publicação e que nem sempre é valorizado pela nossa blog-turma é o estilo: a cadência e o rítmo deixam o texto mais sedutor.

Embora alguns jornalistas ignorem os blogs, Bernardo lembra que nesse veículo pode ser fonte de expertise (Biblioteca virtual em saúde), seletividade (filtro ex. Ciência na mídia) e agilidade (ex. Not Exacty Rocket Science).

Bernardo lembrou ainda que no jornalismo brasileiro a figura de especialista científico não é comum. Os jornalistas cobrem diversas áreas da ciência e por isso dependem da parceria com os cientistas. Ao mesmo tempo, os blogueiros podem se valer da infraestrutura que os grandes jornais possuem e não precisam tratar de temas áridos: mesmo quando necessários, eles podem ser deixados para os jornais.

Assim, Bernardo sugere uma convivência harmoniosa entre blogueiros e jornalistas e acredita que ambos podem somar esforços para a coberturas coordenadas de um determinado tema.

Livros - Submarino.com.br

domingo, 27 de setembro de 2009

Ciencine: uma imersão na arte e na ciência

Fábio Almeida levou para o II EWCLIPo uma discussão sobre filmes usados para compartilhar a ciência. Ele que é produtor e diretor de filmes e vídeos, investiga como a ciência tem sido levada para a tela e se envolve na produção de filmes de ciência. Ele também é um dos curadores da Ciencine, uma mostra de filmes no Instituto Biológico de São Paulo que apresenta obras que tratam temas contemporâneos como LHC e física quântica. Além dos filmes, as mostras também incluem discussões com especialistas para um público que inclui profissionais e demais interessados na interface ciência e cinema.

O Instituto Biológico de São Paulo é ligado à Secretaria de Agricultura e já foi dirigido por José Reis: uma espécie de blogueiro, segundo Fábio que considera Reis o criador de um modelo de divulgação científica onde a informação pudesse informar a sociedade o mais rápido possível.


Ao traçar afinidades entre a ciência e o cinema, Fábio ressaltou que ambos começam com a observação. Ele explica que a ciência e o cinema, mesmo que pareçam dissociados, são aliados capazes de integrar as percepções humanas num só conjunto: razão e emoção. Ele cita Virgílio Tosi para afirmar que o real nascimento do cinema não está na invenção e desenvolvimento do espetáculo cinemático. Ou seja, o que determinou a descoberta do cinema foi a necessidades de pesquisas científicas em busca de técnicas para gravar a realidade física em seu aspecto dinâmico com o propósito de análises, descobertas e entendimento. O cinema científico, nascido muitos anos antes do cinema do espetáculo, constitui a base histórica para a linguagem de imagem em movimento. Os cientistas do pré-cinema buscavam perceber e comunicar por meio dos código cinematográficos de modo a dar conta da vida em movimento para estudá-la amplamente. A ousadia era capturar o gestual, o verbal, o escrito, o plástico e o representacional

Um bom exemplo é Etienne-Jules Marey, biólogo que viveu antes do advento do cinema e criou uma quantidade enorme de máquinas e mecanismos que possibilitaram a descoberta de Lumière. O objetivo de Marey e seus contemporâneos era registrar e estudar o movimento . Eles usavam gráficos e aperfeiçoavam máquinas fotográficas buscando registrar a instantaneidade do movimento. As descobertas dessa época servem de ponto de partida até hoje nos trabalhos de animação e pintura de animais em movimento.

O advento de uma máquina de animação, que permitia fazer várias fotos sucessivas e depois reproduzia de modo a criar uma animação é também mérito de Marey. Em outras palavras, cientistas foram os pioneiros ao desenvolver máquinas que decifraram o mistério movimento.

Fábio discorda dos autores que defendem que os cineastas científicos não contribuíram com a linguagem do cinema. As imagens de arquivo revelam que os cientistas, além de construir máquinas, traziam uma preocupação estética em seus registros. Fábio exibiu alguns desses filmes e mostrou como tais registros trazem o enquadramento cinematográfico, em plano americano que seria a base do cinema de ficção que só passaria a usar tais planos 20 anos depois.

Estudando a origem do cinema como linguagem e mecânica, Fábio pensa no cientista contemporâneo, postando em seu blog. Não é possível reproduzir simplesmente as informações que escolhemos para publicar ou não seremos capazes de desmascarar grandes verdades, como no caso de Lumière a quem costumam atribuir méritos que pertencem aos cientistas. Por isso, um blogueiro que divulga ciência deve encará-la com disposição para o aprofundamento.
Fábio acredita que o avanço e a popularização de câmeras e outros equipamentos digitais permitem recursos ao blogueiro cientista contemporâneo que podem deixar seu blog ainda mais instigante.

Para mim, o mais interessante dessa palestra foi ouvir que, ao contrário do que é divulgado, os cientistas, muito antes de Lumière, tiveram um importante papel na história do cinema. Me fez pensar no que teria acontecido se as engenhocas dos cientistas não tivessem sido criadas o que promoveria como seria possível o advento do cinema? Melhor foi saber que meus pares antepassados também se deram conta de que cinema é linguagem e que a arte é forte aliada da ciência. Assim como eles se apropriaram da arte no estudo da anatomia e dos movimentos dos corpos, imprimindo beleza nos planos que escolhiam para seus registros científicos, nós cientistas contemporâneos nos apropriamos de linguagens diversas para divulgar a ciência.

Cine & Foto - Submarino.com.br

A ciência de plantão na blogosfera


Suzana Herculano-Houzel, autora do blog "A neurocientista de plantão" falou aos blogueiros sobre as suas experiências na blogosfera que começou em 2000. Ela apresentou um panorama histórico sobre os divulgadores de ciência e explicou que até o século XIX o cientista costumava divulgar seus saberes nos saraus e outros eventos sociais. No século XX, com a profissionalização da ciência, o cientista passou a falar com seus pares e deixou de dialogar com a sociedade. Em busca da legitimação da prática científica, passaram a ser diferentes no modo de vestir e falar e isso aumentava o distanciamento entre ciência e sociedade. No pós-guerra surge a figura do jornalista especializado em ciências. A tendência atual é a divulgação alternativa, usando inclusive os blogs como meio de difusão e a profissionalização da divulgação científica. Hoje não importa a formação do divulgador: há vagas para cientistas e para jornalistas que querem fazer divulgação científica.

Suzana apresentou algumas razões para divulgar ciência:
  • Ao fazer divulgação, o cientista presta contas à sociedade que financia suas pesquisas
  • A divulgação científica é financeiramente interessante para o cientista, na medida em que sua pesquisa é publicamente reconhecida.
  • A ajuda entre cientistas permite acompanhento recíproco da pesquisa.
  • Acompanhar o trabalho de outros cientistas promove o aprendizado.
  • Novas questões são pensadas durante o trabalho de divulgação.
  • Se ciência é notícia, ninguém melhor que o cientista para falar sobre o fazer ciência.
  • A prática da divulgação ajuda na redação de artigos científicos porque bons resumos científicos são, de certa forma, pequenos artigos de divulgação científica.
  • Várias vezes um cientista precisa escrever sobre o trabalho dos outros ao fazer revisões, relatórios, assim o trabalho de divulgação permite um constante exercício de escrita.
  • A divulgação científica treina o cientista para dar respostas claras.
  • Fazer divulgação científica pode ser divertido e permite fazer novos amigos.
  • Na divulgação o cientista o cientista pode se sentir a liberdade de expressão, tantas vezes reprimida.
  • O cientista que divulga seu trabalho mostra que é gente como todo mundo e tem a oportunidade de receber dicas do público, podendo trazer luzes à pesquisa.
  • Faz bem pensar em como o leitor vai ficar bem ao entender alguma coisa sobre um assunto que lhe parecia impenetrável.
  • A conquista de aliados na sociedade para seguir com a pesquisa. Um bom exemplo é quando o público se mobiliza para defender a pesquisa com animais após entender que se algumas pessoas continuam sobrevivendo é em função do uso de animais nas pesquisas.

Por que existem poucos livros de divulgação científica? Suzana aponta a falta de tradição e de espaço nas livrarias como razões para o problema, mas critica o fato de editores e cientistas insistirem que não há oferta porque não há demanda. Para ela, uma prova de que ciência vende, é a boa receptividade dos livros que ela lançou para divulgar neurociência e explicou que um romance que vende 2 mil exemplares é considerado bem sucedido: um único livro "Mantenha seu cérebro vivo já vendeu 100 mil exemplares. Parece haver uma demanda reprimida no mercado editorial. Em relação à divulgação científica na internet, O cérebro nosso de cada dia, é outro sucesso de público. Criado em 2000, esse site de Suzana recebeu em 2004 cerca de 400 visitas por dia. E isso sem nenhum tipo de divulgação. A maior parte do público visitante é de profissionais que não são da área biomédica. A motivação que se destaca é a curiosidade pela ciência. Por isso, Suzana acredita que os cientistas podem e devem suprir a lacuna editorial nas obras que discutem ciências, considera que os sites e os blogs são instrumentos viáveis e defende que os jornalistas podem ser bons aliados do cientista.

Suzana terminou dizendo que para facilitar a venda de seus livros, ela se apropria de uma linguagem comum em livros de auto-ajuda. Em "Fique de bem com seu cérebro", por exemplo, ela usa trechos simples para explicar a informação científica que o livro trata. Essa opção foi alvo de muitas críticas no meio científico. Mesmo assim, ela acredita que é importante comunicar com seus leitores e por isso insiste na sedução da simplicidade.

Você sabe escrever?

Na segunda palestra do II EWCLIPO, Sonia Rodrigues defendeu que a poesia tem um importante papel na formação do físico e outros profissionais de exatas. Ela observou que os profissionais que atuam nessa área, embora tenham aceso à linguagem computacional, científica e matemática, não costumam exercitar a escrita nem experimentar a linguagem poética. Foi quando ela propôs o projeto Poesia para físicos.


Durante a pesquisa, Sônia observou também que os profissionais de humanas se distanciam das linguagens científica e matemática. Essas observações abriam questões como: se todo ser humano é capaz de aprender a linguagem, o que acontece durante a formação profissional, para que o profissional se exclua de linguagens diferentes daquela que ele lida com maior frequência? Se o raciocínio lógico-matemático e a habilidade da escrita exigem uma iniciação, o que acontece durante o processo de educação para que as habilidades fiquem partidas? O que fazer para preencher as lacunas na aprendizagem que tornam os alunos incapazes de escrever?

É como se os universitários abandonassem a competência adquirida na infância: toda criança sabe contar histórias e a perda dessa habilidade pode ser decisiva: quem sabe defender suas idéias tem melhores condições de sobressair como gente.

Você já parou para pensar na quantidade de jovens carentes com talento para cursar física e que poderiam se formar para atender a demanda de emprego no mercado brasileiro? Buscando identificar esses jovens e entender o impacto das novas mídias no diálogo entre universidade e ensino médio, como por exemplo, nos meios de usar o YouTube como livro em progresso, Sônia procurou jovens de baixa renda que iriam prestar vestibular e sondou: você gostaria de seguir uma carreira onde existem mais empregos que candidatos? Você gostaria de fazer física? Os alunos que aceitaram o convite foram avaliados através das Matrizes de Raven, um método de avaliação de desenvolvimento intelectual que apresenta desenhos incompletos para que o avaliado preencha demonstrando sua capacidade de reconhecimento de padrões e abstração. Esse teste oferece uma escala de inteligência que vai de 0 à 100. Entre os jovens carentes analisados, havia Raven 90: o que indica inteligência notável. Os jovens que sobressairam no teste foram convidados à se preparar para o vestibular. Entretanto, muitos não podiam frequentar as aulas preparatórias por absoluta falta de dinheiro para despesas básicas como ônibus e alimentação: eles precisavam percorrer 30 km ou mais para estudar física, sem dinheiro para comprar um pacote de biscoito. Além da limitação financeira, as deficiências na formação dos jovens também é um problema: entre as melhores alunas, duas não tiveram a redação corrigida porque fugiram do tema.

Sensibilizados com esse problema, Sônia e outros professores da UFF investiram no ensino à distância. Para aumentar o interesse pela licenciatura de física, foi criado o blog sei mais física que oferece aulas de física e sessões que permitem a interatividade com os jovens candidatos e alunos. Sônia ofereceu uma bolsa de 100 reais para alguns alunos para que eles pudessem pagar o ônibus e a lan house de modo que pudessem frequentar as aulas e acompanhar atividades pela internet. Ela conta que houve uma maior adesão dos alunos carentes no programa e que os comentários dos alunos costumam ser respondidos por especialistas, aproximando grupos sociais.

Sônia também apresentou seu portal almanaquedarede que foca o RPG e é usado por alunos e professores da rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro. Tal projeto envolve cerca de 3500 alunos em jogos que estimulam a escrita criativa. A regra básica é não poder trocar palavra por palavra e não usar a muleta das palavras.

O jogo chamado Autoria foi o objeto de estudo da tese de doutorado de Sônia Rodrigues. O jogo usa as matrizes narrativas: existem sete histórias básicas, a inovação está na forma de contar essas histórias. Assim, é possível exercitar a dissertação, a descrição, a narrativa e a mensagem. Embora Sônia seja muito procurada para tentar adaptar o RPG para a educação, ela parece não gostar da idéia porque tais jogos são inclusivos e não se focam em arcabouços teóricos, como querem os especialistas em educação.

Ela terminou dizendo que o ensino da escrita não deve usar apenas as palavras. A percepção visual e o uso de outros recursos como cores pode facilitar a expressão escrita. Parece que a arte da escrita não é exclusividade de um grupo de profissionais. Bom saber!

sábado, 26 de setembro de 2009

Escrita e sabinas na busca da criatividade e da inovação


Na primeira palestra do II Ewclipo, Encontro de Weblogs Científicos em Língua Portuguesa, ouvi Mauro de Freitas Rebelo falando sobre a escrita criativa. Mauro oferece uma oficina de escrita criativa em Ciência na UFRJ e ressaltou que escrever, desde uma resposta de prova até uma dissertação de mestrado, exige a prática da escrita.

Ao analisar as produções textuais de alunos, Mauro detectou vários problemas que comprometem a escrita criativa: a imitação, a superficialidade, a técnica, a qualidade/critério, a caretice, a inovação, a criatividade e a preguiça. Ele considera que a escola é responsável por esses problemas, uma vez que em todos os segmentos, a imitação é a regra: estimula-se a observação das estratégias que os autores usaram para que os alunos reproduzam tais "coisinhas" em seus textos. Como educadora, me incomoda quando colocam na conta da escola todos os males. Afinal, a escola não forma sozinha: a escrita é uma conquista que exige disciplina e vontade do sujeito, bem como o acompanhamento e o estímulo da família.

Mauro ressaltou que, embora a sociedade contemporânea conviva com um impressionante volume de informação acumulado ao longo da história, destacando os dois marcos desse processo que foram a invenção da imprensa (1442) e o advento da internet (1993), a maioria dos textos produzidos são superficiais. Para que o blogueiro não sofra desse problema, Mauro sugere como estratégia que os autores escolham no mar de informações o que realmente interessa e que sigam o protocolo:
  • Escrever é sobretudo, reescrever. Lobo Antunes
  • Um escritor tem que trabalhar 10 h por dia 2 para escrever e 8 para corrigir - Horácio Flacco
  • A palavra não é a casa da mãe Joana - Sonia Rodrigues
  • Um livro tem de ser eficaz - Tolstoi
  • A técnica deve servir a eficácia - Lobo Antunes
Mauro lembrou que na geração dos anos 80, o audiovisual tinha enorme importância. Com a internet a palavra volta a ganhar relevância. Mas em meio à avalanche de textos publicados, como avaliar se o texto tem ou não qualidade e como construir o conceito de qualidade? Em um determinado grupo, a escolha do melhor e do pior texto é quase uma unanimidade, porque tal grupo já possui seus padrões estabelecidos. Por outro lado, o conceito de qualidade muda de acordo com o meio porque as referências do que é qualidade são construídas coletivamente.

Para Mauro, o problema da chatice do texto tem a ver com a superficialidade e a imitação. Ele criticou a incompreensível e tediosa fórmula usada nos artigos científicos tradicionais. Em seguida mostrou duas obras de arte: David de Michellagelo (1504) e O Rapto das Sabinas de Giambologna (1582) perguntando qual dessas obras poderia ser considerada inovadora. Mauro explicou que, com inegável técnica Michellangelo reproduziu o de sempre: uma estátua com frente e verso. Ao contrário de Giambologna que preferiu fazer uma composição em espiral, permitindo com que cada ângulo da escultura pudesse ser observado.

Aprendi nessa palestra que a criatividade vale mais que informação, ao mesmo tempo, dominar a técnica implica em respeitar o princípio básico das coisas. Assim, para escrever no blog ou em outros suportes sérios deve-se primeiro submeter as idéias do texto a um exame intelectual criterioso antes de ser colocada a prova experimentalmente. Haverá um dia em que os blogueiros poderão viver de blogs e terão um tempo razoável para fazer uma pesquisa rigorosa antes de colocar seus textos na nuvem. Antes que isso aconteça, nossos leitores terão que ter um pouco de paciência.

Mas será que os escritores sabem explicar como eles fazem para escrever seus texto? Mauro acredita que não: em geral, os escritores usam a Regra Post hoc, ou seja, se preocupam com as regras depois do texto pronto. É possível que mais gente escrevesse se a escrita fosse estimulada sem priorizar regras: os autores colocariam no papel o que lhes parecesse correto para só depois pensar na forma culta. O texto precisa da regra, mas depois de escrito.

Se você, como eu, estiver interessado na Oficina de escrita criativa em ciências, saiba que ela acontecerá de 25 e 29 de outubro, 99 no IBCCF/UFRJ

Blogueiros cientistas no EWCLIPO



Hoje estou em Arraial do Cabo e, ao contrário da previsão, o céu está maravilhosamente azul. Mas não vim para pegar um bronzeado: nesse momento estou em uma sala ouvindo um dos palestrantes do II Encontro de Weblogs Científicos em Língua Portuguesa (EWCLiPo).

As discussões estão ótimas e em breve vou partilhar o que tenho aprendido com outros blogueiros. A internet está povoada com cerca de 120 blogs de ciência, isso só no Brasil. Esse espaço de divulgação científica tem atraído cada vez mais cientistas e jornalistas e profissionais que atuam no ensino de ciências.

O encontro começou ontem, dia 25, e ficaremos reunidos até amanhã. Espero fazer amigos e encontrar estratégias para tornar o aeducadora mais interessante. Afinal, o sonho de todo blogueiro é ser resgatado da solidão: isso acontece quando recebemos os comentários de nossos leitores.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pra que mentir?

A mentira não protege: ela desampara o enganado, confunde o mentiroso e perturba o cúmplice. Esse é o mote do filme "Desde que Otar Partiu...". Uma história tão instigante que eu não conseguiria dormir sem contar para vocês. Três gerações de mulheres vivem juntas e precariamente em Tbilissi, a capital da Geórgia. A matriarca, Eka, encontra forças para cotinuar vivendo nas cartas e telefonemas que recebe de seu filho doutor, Otar, que foi para Paris tentar ganhar a vida em um sub-emprego. Ela não se entende com a filha Marina, mas tem um carinho especial pela neta Ada. Ela vai passear na casa de campo, quado a filha e a neta, que ficaram em casa, recebem a notícia da morte de Otar. Marina resolve montar uma série de estratégias para que a mãe continuasse recebendo as cartas de Otar e não desconfiasse do trágico fim de seu filho que caiu de um andaime. Ada parece incomodada em alimentar a mentira, escrevendo cartas em nome do tio morto, mas parece não ter forças para contar a verdade.


Uma das cenas bais belas do filme é quando a matriarca está subindo sozinha uma enorme escada em espiral. A escada, que talvez não por acaso remeta à estrutura do DNA, levará à verdade. A verdade que nem sempre queremos encarar.

Uma aula excelente sobre ácidos nucleicos

Para ver, rever... estudar!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

um beijinho carinhoso à todos que lembraram do meu aniver!

é bom celebrar a vida ao lado de amigos especiais!!!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

À sombra do castelo


Hoje levei alguns dos meus alunos para uma visita à Fundação Oswaldo Cruz. Simone Kropf, historiadora, especialista em Carlos Chagas foi a nossa anfitriã e nos encantou com as histórias, com H maiúsculo, que ela descobriu ao se debruçar sobre os registros feitos por Chagas. É graças à esses documentos e ao entusiasmo de especialistas como ela que a história da ciência brasileira tem sido recontada e tem chegado ao ensino fundamental e médio. Tais histórias foram apreendidas pelos meninos da Escola Parque à sombra do castelo de Oswaldo Cruz. Sentados na escada, o grupo formado por alunos do clube de ciências e do ensino médio faziam perguntas do arco da velha. Simone quase sem tempo para respirar, foi tecendo sua teia de informações e depois nos acompanhou na visita ao castelo para conhecermos a exposição "Carlos Chagas".

Das lições deixadas por Simone, duas merecem destaque: não foi por acaso que Chagas fez a sua importante descoberta. "A façanha só foi possível porque a mente do cientista estava preparada para ela". Espero que meus pequenos e minhas grandinhas tenham entendido a mensagem e nunca se cansem de preparar a mente para as façanhas que a vida reserva. A outra lição, deixada por Chagas, diz respeito à melhoria da condição da vida das populações: uma saída não apenas para resolver o problema da doença de Chagas, mas para tantos outros males que nos assombram.

Os alunos do ensino médio que participaram da excursão, tinham um interesse específico: buscar subsídios para construir as monografias sobre o mito Chagas e seus principais colaboradores. Simone trouxe luzes preciosas para esses trabalhos porque também escreveu sobre os colaboraram de Chagas durante a tese de doutorado.
Se o objetivo da excursão era despertar o interesse pela ciência: missão cumprida!

domingo, 13 de setembro de 2009

O seu voto é importante!!!

Oi Pessoal,

Estou participando de um processo de seleção para produção do média-metragem "Espírito de Natal". Clique abaixo para assistir o trailer:



Os recursos para a realização desse projeto depende do número de votos recebidos no site Filma Brasil. Essa votação já está liberada. Para votar é necessário cpf e email válido para fazer um pequeno cadastro no site. Por favor, votem e, se possível, divulguem!

http://www.filmabrasil.com.br/roteiro_detalhe.asp?roteiroID=450

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Você acha que eu vou ter pena?

Algumas campanhas anti-drogas são bem convincentes. É o caso dessa:



Se os usuários financiam o crime, como mostra essa campanha, porque não responsabilizá-los? Enquanto a moçada insiste na curtição de um barato, recursos públicos são canalizados para tratamento e reabilitação de dependentes químicos, meninos e menino morrem no sub-mundo do tráfico e a criminalidade se capitaliza. Até quando seremos coniventes com esse pessoal que gosta de se sentir doidão?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Chagas na Rede

A internet oferece várias opções interessantes de textos sobre Carlos Chagas. No portal da Fiocruz, Museu da Vida, há um espaço privilegiado para esse cientista. Mas hoje selecionei alguns vídeos que mostram o vetor, apresenta o agente causador, apresenta cientista e discute ações preventivas. Vale conferir.

Em primeiro lugar, uma reportagem que apresenta espécies de barbeiros e alerta para a importância da limpeza para a prevenção da doença. Entretanto, o vídeo não explica a ligação que existe entre o lixo e o barbeiro: eliminar o lixo evita a formação de esconderijos para o vetor. O vídeo é institucional e mostra uma reunião dos cientistas na ocasião dos 100 anos da descoberta da doença, para discutir situação atual da doença e divulgar informações.

Uma das cientistas entrevistadas explica que Carlos Chagas entrou para a história por ter descoberto o vetor, o agente causador e o primeiro caso humano da doença. Estima-se que cerca de 300 mil pessoas estejam contaminadas e melhorar as moradias é fundamental para prevenir novos contagios.



O próximo vídeo, mostra imagens de casas de pau-a-pique onde os barbeiros, vetores da doença, escondem seus ovos. Nas imagens também aparecem barbeiros se escondendo no peridomicílio, como galinheiros, por exemplo. Um trecho interessante é quando uma pessoa é picada pelo barbeiro e se coça em seguida. Será que por amor à ciência, essa pessoa foi contaminada?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Genética no YouTube

hoje selecionei dois vídeos para você recordar ou aprender os conceitos fundamentais de genética:



quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PLS - PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 480 de 2007

Em 2007 o Senador Cristovam Buarque apresentou uma proposta ousada: que político eleito (vereador, prefeito, deputado, etc.) seja obrigado a colocar os filhos na escola pública.
Infelizmente o senado não parece ter levado essa proposta muito à sério. É uma pena. Quando os políticos se virem obrigados a colocar seus filhos na escola pública, a qualidade do ensino poderia sofrer grandes impactos. Não sei se os professores iriam suportar os anjinhos...

Autor: SENADOR - Cristovam Buarque
Ementa: Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.
Data de apresentação: 16/08/2007
Situação atual: Local: 18/06/2009 - Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
Situação: 17/04/2009 - AGUARDANDO INSTALAÇÃO DA COMISSÃO
Indexação da matéria: Indexação: FIXAÇÃO, OBRIGATORIEDADE, AGENTE PÚBLICO, OCUPANTE, CARGO ELETIVO, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, REPÚBLICA FEDERATIVA, ESTADOS, (DF), MUNICÍPIOS, MATRÍCULA, FILHOS, DEPENDENTE, ESCOLA PÚBLICA, EDUCAÇÃO BÁSICA, ENSINO FUNDAMENTAL, ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, DEFINIÇÃO, PRAZO MÁXIMO, APLICAÇÃO, NORMAS.