Na segunda palestra do II EWCLIPO, Sonia Rodrigues defendeu que a poesia tem um importante papel na formação do físico e outros profissionais de exatas. Ela observou que os profissionais que atuam nessa área, embora tenham aceso à linguagem computacional, científica e matemática, não costumam exercitar a escrita nem experimentar a linguagem poética. Foi quando ela propôs o projeto Poesia para físicos.
Durante a pesquisa, Sônia observou também que os profissionais de humanas se distanciam das linguagens científica e matemática. Essas observações abriam questões como: se todo ser humano é capaz de aprender a linguagem, o que acontece durante a formação profissional, para que o profissional se exclua de linguagens diferentes daquela que ele lida com maior frequência? Se o raciocínio lógico-matemático e a habilidade da escrita exigem uma iniciação, o que acontece durante o processo de educação para que as habilidades fiquem partidas? O que fazer para preencher as lacunas na aprendizagem que tornam os alunos incapazes de escrever?
É como se os universitários abandonassem a competência adquirida na infância: toda criança sabe contar histórias e a perda dessa habilidade pode ser decisiva: quem sabe defender suas idéias tem melhores condições de sobressair como gente.
Você já parou para pensar na quantidade de jovens carentes com talento para cursar física e que poderiam se formar para atender a demanda de emprego no mercado brasileiro? Buscando identificar esses jovens e entender o impacto das novas mídias no diálogo entre universidade e ensino médio, como por exemplo, nos meios de usar o YouTube como livro em progresso, Sônia procurou jovens de baixa renda que iriam prestar vestibular e sondou: você gostaria de seguir uma carreira onde existem mais empregos que candidatos? Você gostaria de fazer física? Os alunos que aceitaram o convite foram avaliados através das Matrizes de Raven, um método de avaliação de desenvolvimento intelectual que apresenta desenhos incompletos para que o avaliado preencha demonstrando sua capacidade de reconhecimento de padrões e abstração. Esse teste oferece uma escala de inteligência que vai de 0 à 100. Entre os jovens carentes analisados, havia Raven 90: o que indica inteligência notável. Os jovens que sobressairam no teste foram convidados à se preparar para o vestibular. Entretanto, muitos não podiam frequentar as aulas preparatórias por absoluta falta de dinheiro para despesas básicas como ônibus e alimentação: eles precisavam percorrer 30 km ou mais para estudar física, sem dinheiro para comprar um pacote de biscoito. Além da limitação financeira, as deficiências na formação dos jovens também é um problema: entre as melhores alunas, duas não tiveram a redação corrigida porque fugiram do tema.
Sensibilizados com esse problema, Sônia e outros professores da UFF investiram no ensino à distância. Para aumentar o interesse pela licenciatura de física, foi criado o blog sei mais física que oferece aulas de física e sessões que permitem a interatividade com os jovens candidatos e alunos. Sônia ofereceu uma bolsa de 100 reais para alguns alunos para que eles pudessem pagar o ônibus e a lan house de modo que pudessem frequentar as aulas e acompanhar atividades pela internet. Ela conta que houve uma maior adesão dos alunos carentes no programa e que os comentários dos alunos costumam ser respondidos por especialistas, aproximando grupos sociais.
Sônia também apresentou seu portal almanaquedarede que foca o RPG e é usado por alunos e professores da rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro. Tal projeto envolve cerca de 3500 alunos em jogos que estimulam a escrita criativa. A regra básica é não poder trocar palavra por palavra e não usar a muleta das palavras.
O jogo chamado Autoria foi o objeto de estudo da tese de doutorado de Sônia Rodrigues. O jogo usa as matrizes narrativas: existem sete histórias básicas, a inovação está na forma de contar essas histórias. Assim, é possível exercitar a dissertação, a descrição, a narrativa e a mensagem. Embora Sônia seja muito procurada para tentar adaptar o RPG para a educação, ela parece não gostar da idéia porque tais jogos são inclusivos e não se focam em arcabouços teóricos, como querem os especialistas em educação.
Ela terminou dizendo que o ensino da escrita não deve usar apenas as palavras. A percepção visual e o uso de outros recursos como cores pode facilitar a expressão escrita. Parece que a arte da escrita não é exclusividade de um grupo de profissionais. Bom saber!
domingo, 27 de setembro de 2009
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