domingo, 29 de junho de 2008

O Castigo do deus César Maia

Os motoristas que ousam estacionar nas ruas do Rio de Janeiro estão sujeitos aos mais diversos tipos de extorsão. Dos donos da rua vestidos de coletes cinzas aos reboqueiros oficiais, todos estão prontos para abocanhar uma fatia da parca economia dos contribuintes fluminenses.

Recentemente, tive o meu veículo rebocado na Rua Assis Bueno em Botafogo, próximo a uma das escolas onde leciono. Não pretendo aqui discutir o mérito do reboque, executado em um trecho em que não havia nenhuma placa para avisar a proibição do estacionamento. O que move esse texto é a indignação pelo tratamento a que fui submetida: incompatível com o conceito de cidadania, tão difundido nos programas da prefeitura.

Assim que soube que o meu carro foi rebocado, me dirigi ao Detran da Presidente Vargas. Lá, ouvi um dos atendentes dizendo a outro cidadão: "Talvez você não consiga resgatar o seu carro hoje, afinal, é sexta feita e ninguém gosta de trabalhar até mais tarde". Sem olhar para mim, o mesmo atendente me deu um pequeno papel amassado com um endereço e me avisou que antes de mais nada eu deveria ir ao local. Antes de me dirigir para lá resolvi passar no Itaú para pegar o nada-consta, como um amigo, não os profissionais do detran, havia me orientado. Chegando ao tal endereço - Andradas 96 - recebi um papel e soube que eu deveria ir ao Detran e retornar para pegar o boleto de pagamento. Perguntei à atendente se eu não poderia já levar o tal boleto e ela nem se deu o trabalho de me responder. No Detran encontrei uma fila enorme e aguardei a minha senha. Quando finalmente fui atendida, descobri que deveria voltar à sala de espera para aguardar que me chamassem novamente. Dessa vez não haveriam senhas: os nomes das pessoas eram "berrados" pelos atendentes. Quando berraram o meu nome pulei da cadeira e recebi um novo papel para levar novamente à Rua dos Andradas. Chegando lá, a espera foi ainda maior pois havia um único guichê de atendimento.

Enquanto eu aguardava, li no quadro de avisos um comunicado da prefeitura avisando que a frota de reboques estava sendo triplicada e a fiscalização também ganhava novos reforços. Para o prefeito do Rio de Janeiro, a punição é o meio para educar seus eleitores e resolver o caótico trânsito do Rio de Janeiro. Ainda durante a espera, presenciei vários motoristas revoltados com o reboque de seus veículos. Muitos denunciavam as irregularidades do procedimento, mas a única a ouvir as queixas era a pobre da atendente. Senti pena daquela alma! Ao ser chamada, descobri que o meu carro havia sido depositado na Praça Onze, o que me pareceu um alívio, afinal, eu poderia ter que buscá-lo em Caxias ou em outros lugares ainda mais distantes onde a prefeitura amplia a sua eficiente rede de "arrecadação".

Para economizar, afinal o meu orçamento de professora não previa todas aquelas taxas municipais, resolvi ir de metrô e seguir o restante à pé. Enquanto eu caminhava no sol escaldante do Rio de Janeiro, chorei como um menino diante de um poderoso tirano e pensava nas razões que fazem um governante penalizar os seus contribuintes daquele modo. Não seria possível resolver todo o problema em um único local de forma rápida e eficiente? Não poderia o contribuinte, neste mesmo local, denunciar as irregularidades e ter uma pronta resposta? Talvez sim, em um futuro que espero ser próximo, com eleitores conscientes das consequências de um voto sucessivamente equivocado.



* Perdão se você já tiver lido esse texto. Na ocasião do reboque publiquei uma versão semelhante no "reclame aqui" e enviei para os meu amigos. Até agora a prefeitura não se pronunciou, por isso resolvi botar de novo a boca no trombone, quer dizer, no blog - principalmente porque o número de visitantes, felizmente, está crescendo - graças ao apoio dos visitantes fofos que indicam o blog para outras pessoas. Se você é um deles, obrigada!

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