Olá pessoal, hoje quero partilhar com vocês a minha dissertação  de mestrado: A Ciência e o cientista através da janela  mágica – estudo de caso com o filme Sonhos Tropicais, apresentada no final do ano passado no Instituto Oswaldo Cruz.
Nesse trabalho, orientado pela professora Luisa Massarani,  sugiro o uso de filmes como uma das possibilidades para tornar a aprendizagem de biologia  mais instigante para o ensino médio. A escolha de um filme brasileiro  foi proposital para, a partir da nossa realidade refletida na tela, estimular o interesse dos jovens pelos filmes brasileiros  e pela ciência que é produzida no Brasil.
O filme Sonhos  Tropicais, lançado em 2002 e dirigido por André Sturm, traz questões muito atuais, principalmente nesses dias em que integramos a arena da luta contra o dengue no Rio de Janeiro. Na tela, também acompanhamos um momento  de intensa crise na saúde do Rio de Janeiro, mas o momento retratado é o início do século XIX. Nesse período, a cidade era apelidada de “Túmulo dos Estrangeiros”  porque os tripulantes dos navios estrangeiros, com medo de epidemias como:  febre  amarela, peste bubônica e varíola, evitavam atracar no Brasil. Essa situação comprometia  a economia do país, que nesta época estava concentrada na produção  e exportação do café.
O filme mostra que para enfrentar os problemas da época, o cientista Oswaldo Cruz foi convidado para combater as  principais epidemias que afastavam os investidores estrangeiros. O espectador pode perceber que, ao mesmo tempo, estava acontecendo uma intensa reforma arquitetônica em que os cortiços davam lugar aos palácios e avenidas. Para promover essas mudanças, parte da população foi violentamente desabrigada ou tiveram suas casas invadidas pelos agentes de saúde.
A insatisfação desse grupo de cidadãos e a organização dos opositores do então presidente Rodrigues Alves somaram forças para contestar as medidas de saneamento consideradas arbitrárias.  O auge da crise foi a proposta da vacinação obrigatória que resultou  no episódio conhecido como a “Revolta da Vacina”.
Apesar da relevância  histórica e científica desse episódio, ele ainda é pouco estudado  nas aulas de biologia do ensino médio, mas há uma lição significativa na Revolta da Vacina: a importância do envolvimento da população nas ações  de saúde. A história dos cientistas brasileiros também ganha pouco espaço no  ensino de biologia e por isso "Sonhos Tropicais" pode ser uma oportunidade para trazer  essas discussões.
Além de representar  a Revolta da Vacina, o filme narra o drama das polacas, jovens judias  de origem polonesa, trazidas para o Brasil com uma falsa promessa de  casamento. Longe de seus familiares e sem entender o idioma local, as polacas eram exploradas nos bordeis e rechaçadas pela sociedade.
Por que não fazer do ensino  de biologia um espaço para refletir e combater ações  que violam os direitos humanos como a exploração sexual de mulheres  e crianças, tão comuns na nossa contemporaneidade?
Para saber  como os jovens reagiriam às densas questões tratadas no filme, contamos  com dois grupos colaboradores. O primeiro grupo, monitores no Museu da Vida, foi formado por jovens  que vivem em situação  de risco social e moram nas adjacências da Fundação Oswaldo Cruz.  O segundo, grupo foi formado por alunos de uma escola privada: a escola  Parque-Barra. Embora em situações econômico-social opostas, esses jovens tinham  em comum o fato de estar cursando ou já haver cursado o ensino médio.
Nossos colaboradores assistiram ao filme, participaram de um grupo focal,  onde foram estimulados a discutir os temas tratados no filme, de acordo  com o interesse de cada grupo. Por exemplo, o grupo do Museu da Vida  revelou intensa identificação com a situação de pobreza da população  que se rebelava contra a vacina e com a precariedade dos serviços públicos  oferecidos a essa população. Já o grupo da Escola-Parque mostrou-se  sensibilizado com o drama das polacas. Para que pudessem se expressar  individualmente, cada jovem preencheu um questionário. Além disso,  realizamos um júri simulado a fim de que cada grupo vivenciasse uma  imersão na história e avaliassem a responsabilidade dos cientistas  em uma crise de saúde pública.
Toda essa participação foi gravada  posteriormente transcrita na íntegra.
O conteúdo desse material foi analisado através de métodos qualitativos e exploratórios,  por isso, os resultados obtidos com esses grupos de jovens não podem  ser generalizados para a totalidade dos jovens brasileiros, mas nos permite apontar tendências sobre o uso do filme “Sonhos Tropicais”  entre jovens.
Nossos resultados mostram que o filme promoveu uma discussão  calorosa de temas como a história da ciência brasileira, em especial  a vida e a obra de Oswaldo Cruz e a Revolta da Vacina e permitiu uma  reflexão sobre o problema da exploração sexual no Brasil e no exterior.  De acordo com o relato dos jovens, a participação na pesquisa favoreceu  a apropriação de conhecimentos apresentados no filme e nas literaturas  que disponibilizamos nos encontros que promovemos com os grupos.
Além do trabalho  desenvolvido com esses jovens, a pesquisa traz na íntegra as entrevistas  que realizamos com o escritor Moacyr Scliar, que é autor da obra original,  com André Sturm, o diretor do filme Sonhos Tropicais, com Rosália  Duarte que é pesquisadora da PUC e autora do livro “Cinema e educação”  e com Felicia Krumholz, então coordenadora do projeto Cine-Escola do  Grupo estação.
Essas entrevistas  permitiram o mapeamento das motivações que levaram à criação da  história e à adaptação do romance para as telas de cinema. Também  permitiram que discutíssemos o trabalho de pessoas que militam para  que a sala de cinema seja um espaço privilegiado de aprendizagem, tanto  no ensino formal como no não formal.
De certo modo, partimos da gênese  da narrativa “Sonhos Tropicais”, percorremos o seu trânsito do  texto para a tela e observamos a percepção e a aprendizagem a partir  dessa obra.
Motivações...
Uma das principais  motivações para o desenvolvimento dessa pesquisa é que para mim,  o cinema tem sido o entre-lugar da diversão e do aprendizado. Por isso,  como professora de ciências e biologia, procuro estar no cinema com  os meus alunos. Essa prática me aproximou de pessoas que fazem, exibem  ou pesquisam cinema. Quando passei a atuar como assessora pedagógica  de projetos que levam alunos ao cinema, observei que não era comum  que os meus colegas professores de ciência e biologia freqüentassem  com seus alunos uma sala de cinema, como acontece regularmente com profissionais  que atuam no ensino de história, literatura e outras áreas. Esse problema  pode ser um objeto para futuras investigações, mas já sabemos que  a inclusão de uma disciplina ligada ao cinema nos cursos de formação  dos professores é um diferencial nos cursos de formação dos professores  de história e literatura.  Entretanto, esse território pode ser compartilhado,  afinal, existe uma gama de opções de filmes que representam a ciência  e o cientista. Um dos anexos da minha dissertação traz uma coletânea  com imagens e informações de 78 filmes que apresentam esse enfoque.  Espero que outros educadores se interessem em analisar alguns desses  filmes com seus alunos e que publiquem o relato dessas experiências.
O compartilhamento  dos resultados do meu trabalho depende de espaços de divulgação,  como esse.  Por isso, agradeço a sua ateção, caro leitor. Aproveito a oportunidade para fazer ecoar  um apelo aos coordenadores dos cursos que formam professores de ciências  e biologia para que ofereçam aos futuros educadores a qualificação  necessária para que se possa explorar a ciência e o cientista no cinema e em outras artes que  ampliem o interesse dos jovens pela ciência.
Bem, é isso.  Eu sou Silvania de Paula e falei com vocês sobre o uso de filmes para  incrementar as aulas de biologia, tema da minha dissertação de mestrado,  apresentada em 28 de setembro de 2007, na Fundação Oswaldo Cruz. Vale  lembrar que o cinema encanta e desperta o interesse dos jovens. Por  isso, sempre que for possível apresentar a ciência e o cientista através  dessa janela mágica, a aprendizagem será ainda mais significativa  e prazerosa. Até a próxima!
segunda-feira, 2 de junho de 2008
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3 comentários:
Parabens!!!!!!!!!!!!!!!
adoreiiiiiiiiiiiiiiii
Muito bom conhecer esse tema, sou professor de Ciências e Biologia em Belém-PA e gostaria de saber mais sobre sua dissertação de mestrado
Silvania, onde está a referencia da tua dissertação?
gostei muito e queria ler-la em completo. Iramaia
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