domingo, 17 de maio de 2009

Rodrigueanos

"O verdadeiro teatro agride sempre."

Nelson Rodrigues



No último encontro do projeto "Nelson em cena", proposto pelo professor André Mattos e prontamente aceito por nossa animada turma do Tablado, discutimos a influência da tragédia grega na obra do jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. Aprendemos com André que tragédia não é sinônimo de catástrofe e que os gregos montavam a narrativa trágica através do binômio Destino e Justiça. O destino representava a vontade dos deuses, enquanto a justiça tratava da vontade humana. No deslize a felicidade do personagem era abalada. O sentimento se apoderava do homem grego e através da fala poética, a decadência do herói era narrada.

Com esses pilares,Nelson Rodrigues reinventou a tragédia carioca. Mas dessa vez, os deuses que comandam o Destino são o desejo e a paixão. Trata-se de uma viagem para o interior do homem, encenando as consequências da obediência ao impulso. Essa representação é uma crítica à própria representação, ou à reconstrução da realidade, que não se faz com ingenuidade, mas muita astúcia. Um exemplo é "Beijo no Asfalto", onde um repórter se apropria de um único instante - um beijo dado por um homem em outro homem que estava morrendo - e recria a história, de acordo com seus interesses, manipulando a opinião pública e destruindo relações e pessoas. Como esse repórter, o relato dos personagens de Nelson atribui valores, e revelam um novo universo - perverso por natureza.

Assim, a Justiça de Nelson é a verdade entre aspas, escondidas ou reveladas pelas muitas beatas, tias solteiras ou qualquer outra personificação da moral. As versões dos fatos confundem ao mesmo tempo em que seduzem pela identificação do público com a miséria humana. Por isso o público reage amando ou odiando Nelson, mas nunca indiferente.

À mesa com nosso dedicado professor, tendo a paradoxal Copacabana como pano de fundo, imaginamos Nelson em seu voyerismo pelas ruas cariocas, inventando novos anti-mitos expondo e espalhando seus tifos e malárias. Amados ou odiados, nosso grupo promete agredir.

Um comentário:

Fábio Lemos disse...

Sensacional!!! Você conseguiu traduzir de forma muito feliz o sentimento e a vontade de todos em "fazer Nelson", como nosso querido Dedé nos questionou, no primeiro encontro. Tenho certeza que vamos sacudir esse polemico escritor, seja lá onde ele estiver! Fábio Lemos (Delegado Cunha)