Estou exausta e por isso andei sumida do blog – ainda bem que a gente não se muda todos os dias, se bem que nos últimos três meses nos mudamos quatro vezes. Mas essa é uma longa história que eu não quero contar no momento. O melhor do colocar a vida dentro de algumas caixas é poder dar um sumiço nos excessos. Isso é inevitável pq quando mexidas, as tralhas se expandem e tomam proporções medonhas. Então o jeito é abrir mão de algumas das muitas coisas absolutamente desnecessárias que insistimos em adquirir.
Numa frenética tentativa de colocar as coisas no lugar, me deparei com lembranças incríveis. Uma delas foi um envelope surrado que guardava um diário de bordo e um saquinho com inúmeros papeis. A coleção de contatos foi organizada pela minha querida amiga Marcinéia que me acompanhou na maior aventura da minha vida: uma viagem de carona ao nordeste. O diário de bordo deveria servir para escrever um roteiro para um filme, que nunca existiu como milhares de boas idéias que nunca saem do papel. Felizmente esse espaço existe para que parte das idéias permaneçam na nuvem: quem sabe?
Nossa aventura começou em Guarapari, onde o namorado da Mar tinha um apartamento, mas depois resolvemos esticar para Porto Seguro e de esticada em esticada, chegamos em Salvador em pleno carnaval. Nessa viagem, que durou um mês, conhecemos lugares e pessoas lindos. Eu estava no último ano da faculdade e hoje celebro ter ousado partir, sem grana - só alguns vales-refeição e algumas bolsas que nós mesmo fizemos para vender na praia.
Ao reencontrar o saquinho com os registros dos amigos que fizemos nessa incrível trajetória, pude lembrar de amizades plenas que duraram poucas horas, ou nem isso. A maioria dessas pessoas me contou a vida enquanto nos conduzia pela estrada. Uma das histórias inesquecíveis foi a de um jovem que estava vindo de Trancoso em direção à Salvador onde encontraria sua noiva. Ele tinha acabado de se casar, mas a esposa precisou ficar mais um pouco de tempo em Brasília, onde moravam. Eles combinaram que ele faria a viagem dos sonhos dele: viajar de carro sozinho para o nordeste. Achei tão lindo esse amor que compreende o desejo do outro como algo maior que o modelo convencional de lua de mel. Espero que ao chegar em Salvador esse casal tenha experimentado uma lua de mel ainda mais romântica. Ele falou da noiva com muito orgulho e nos deixou com aquela esperança de um dia experimentar uma relação tão boa. Quando ele nos deixou em Salvador, nos disse que se pudesse nos levaria para a casa dele, mas temia estar abusando da credibilidade da noiva: como ele chegaria com duas mocinhas na casa do sogro?
Quem teve coragem para nos levar para casa foi o então juiz de Conceição da Barra. Foi uma das caronas mais confortáveis do percurso. Não só pelo carro show, mas pela simpatia e pelo acolhimento. Quando chegamos na casa dele conhecemos o filho o promotor de justiça que nos cercaram de atenção. O filho desse juiz ficou muito a fim de nos acompanhar mas não rolou porque iria receber seus convidados para a festa de comemoração de sua aprovação no vestibular.
Nessa viagem tivemos a alegria de encontrar muitas pessoas solidárias. Uma delas foi uma moça vizinha de uma amiga de Salvador que nos recebeu na casa dela quando soube que a minha amiga estava viajando. Sem essa boa alma teríamos passado uma noite na rua, por isso nem precisava que ela nos recebesse tão bem, mas acolhimento de bahiano é dez!
Depois fomos para o apartamento de uma prima da Mar que estava viajando e não se importou de nos oferecer o cantinho dela. Para ver os blocos, também pegavamos carona e conhecemos mais pessoas especiais como o Luis e o Jorge - em dias diferentes, mas que eram amigos de décadas: de certo modo, fomos uma ponte para unir velhos amigos.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
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