Nos últimos dias estou transcrevendo os ensinamentos de Michel Odent que tive a oportunidade de filmar no último encontro do curso “Ecologia do Parto”. De modo muito claro ele fala com entusiasmo sobre diversos temas ligados à saúde emocional da gestante. Aliás, uma das coisas que ele propõe é que a saúde emocional das gestantes seja uma obsessão para quem acompanha as etapas do pré-natal. Para ele, aquele antigo pensamento de não contrariar as mulheres grávidas é essencial para promover a saúde a longo prazo. Ele se baseia em várias pesquisas que detectam uma íntima relação entre os problemas emocionais enfrentados durante a gravidez e o surgimento de doenças físicas e afetiva no filho. Para Odent e seus colaboradores, o risco de criminalidade e outros transtornos de comportamento é maior entre os filhos gerados enquanto a gestante vivenciava uma crise emocional.
A ação dos lipídeos na dieta das gestantes foi um dos pontos altos da palestra. Odent ensinou que do ponto de vista nutricional, os lipídeos podem ser considerados os elementos mais importantes, especialmente aqueles que fazem parte da família ômega 3. Para tornar esse assunto palatável à uma platéia de não-bioquímicos, Odent propôs uma dinâmica que transformou cada aluno em um átomo de carbono e a turma em uma longa cadeia de ácidos graxos – ora saturados, ora insaturados, demonstrando claramente o que é um ômega 3. Até então, eu desconhecia o nível de importância dessa molécula para o desenvolvimento do cérebro durante o período gestacional. Odent destacou que o principal lipídeo relacionado ao desenvolvimento cerebral é um tipo especial de ômega 3, denominado DHE, encontrado exclusivamente nos peixes de alto mar e no leite materno. Odent cita alguns estudos, realizados em diferentes partes do mundo, que relacionam o baixo consumo de alimentos de origem marinha ao aumento do risco de eclampsia severa. No Brasil a eclampsia é o maior fator de risco de mortalidade materna e para Odent, ela ocorre quando a placenta exige mais da mãe do que ela pode oferecer.
Para ressaltar a importância de uma dieta rica em peixes, Odent e seus colaboradores desenvolvem uma pesquisa no Rio de Janeiro, no hospital Alexander Fleming encorajando as gestantes na ingestão de sanduiches de sardinha. A população do Rio de Janeiro foi escolhida em função do baixo consumo de peixes e alto índice de eclampsia e pré-eclampsia. A sardinha é usada na pesquisa pelo baixo custo, por ser fonte de lipídeos necessários para o desenvolvimento cerebral do bebê e por ser um peixe pequeno, que não representa riscos de contaminação pela poluição marinha.
A simplicidade das ações propostas por Odent me faz pensar na urgência de que essas orientações cheguem a um número cada vez maior de pessoas agraciadas com a chegada de um bebê. Se você convive com uma gestante ou pretende engravidar, esse breve relato pode ser útil, mas sugiro a leitura dos livros de Michel Odent. Outra coisa que você pode fazer é facilitar a vida da mãe que amamenta, oferecendo apoio e incentivos. Seja criativo preparando alimentos gostosos a base de sardinha e principalmente, cuide com carinho do estado emocional dessa gestante para que no futuro a nossa população seja mais inteligente e saudável.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
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Um comentário:
Sil, muito interessante seu artigo, baseado nos estudos do Odent, é impressionante como coisas tão simples e que costumavam ser usuais antigamente (lembro da minha avó e das minhas tias), podem melhorar a saúde das pessoas e, principalmente, potencializar a inteligência de nossas crianças.
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