domingo, 20 de março de 2011

Entrevista com Moacyr Slicar


No dia 10 de julho de 2007,  Moacyr Scliar  que me ensinou por e-mail:  

...sobre o perfil do cientista da época de Oswaldo Cruz e da atualidade. 
Como cientista, Oswaldo Cruz nasceu na época certa. Estava no auge então a revolução 
pasteuriana: Louis Pasteur e seu discípulos estavam descobrindo micróbios causadores de doenças, preparando soros e vacinas, abrindo caminho para os antibióticos. Com isto eram atraído para a área da microbiologia e Saúde Pública um grande número de cientistas, entre os quais Oswaldo. Filho de médico (seu pai trabalhou como inspetor da Saúde Pública no Rio), Oswaldo cursou medicina e decidiu aperfeiçoar-se em microbiologia em Paris; estagiou em vários lugares, incluindo o Instituto Pasteur. Regressando ao Brasil participou, junto com dois famosos cientistas de São Paulo, Adolpho Lutz e Vital Brazil, numa comissão encarregada de investigar casos suspeitos de febre bubônica em Santos. Mais tarde foi convidado a assumir a Diretoria Geral de Saúde Pública, o Ministério de Saúde 
na época. E seu primeiro desafio estava, justamente, na cidade do Rio de Janeiro. A então capital federal era tristemente famosa pelas doenças que dizimavam a população: peste, varíola, cólera, febre amarela... As epidemias, freqüentes, tinham razão de ser: as condições sanitárias da cidade eram péssimas - a rede de esgotos era precária, o abastecimento de água tratada também, o lixo se acumulava. Boa parte da população morava em cortiços, enormes habitações coletivas nas quais as pessoas se confinavam em aposentos acanhados. Nestas circunstâncias, a Saúde Pública ganhava enorme importância e os sanitaristas tinham muito poder - um poder que, às vezes, exerciam com certo autoritarismo, como foi o caso do próprio Oswaldo que teve inclusive de enfrentar a Revolta da Vacina. Hoje em dia os cientistas continuam tendo muito prestígio na área médica, inclusive por causa da gigantesca indústria de medicamentos e equipamentos, que depende diretamente de pesquisa. Mas, na Saúde Pública, o poder já não é exercido autoritariamente. A população a tem de 
ser consultada e mobilizada, a opinião pública é importante.  
   
...como se dá a construção da caricatura científica; e de que forma isso cria mais resistência ou aproxima a ciência e a sociedade. 
No caso de Oswaldo Cruz a ação de Saúde Pública transformou-se numa ação eminentemente política: era o governo contra a oposição. Claro que os jornais (na prática, a única mídia da época) tinham de se posicionar a respeito e a caricatura científica passou a desempenhar um papel muito importante. Ela apresentava Oswaldo e seus colaboradores como figuras rídiculas. Naquele caso, criou uma barreira entre a ciência e a sociedade, ainda que a intenção não fosse essa. Mas hoje, aparentemente, este já não é um assunto que interesse aos cartunistas. 
   
Como, a partir de Sonhos Tropicais [livro e/ou filme] o educador poderia despertar o interesse do jovem pela ciência?  
Livros e filmes sempre motivaram muito os jovens. Na minha geração não foram poucos os 
estudantes que escolheram medicina motivados por obras como "Olhai os lírios do campo", de Érico Veríssimo. Mas meu objetivo, em Sonhos Tropicas, não foi idealizar a figura de Oswaldo e sim tratar de entendê-la, de mostrar que o cientista é um ser humano, com as grandezas e as falhas do ser humano. 

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