sexta-feira, 25 de março de 2011

As bases evolutivas do comportamento humano


Os seres vivos são dinâmicos, ou seja, sofrem contínuas mudanças estruturais e essas mudanças, ao longo de milhares de anos, originaram diferentes espécies. A espécie é um meio que a natureza inventou para conservar características particulares ao longo de várias gerações, através da  reprodução. As mudanças são influenciadas por seleção: natural e artificial.


Humberto Maturana e Jorge Mpodozis ensinam que a história do surgimento do homem coincide com o surgimento da linguagem. Eles defendem que a linguagem depende de coordenações, condutas e consensos. "Para desenvolver a linguagem é preciso uma história de encontros recorrentes, baseados na aceitação mútua, suficientemente intensa e prolongada".
O modo de viver de uma espécie estabelece relações entre o ser vivo e o meio que se estendem ontologicamente, ou seja: desde a fecundação do ovo até a morte. Mpodozis e Maturana chamaram isso de fenótipo ontogênico e consideram que esse modo de viver não está determinado geneticamente porque se desenvolve na história individual de cada organismo.
Atavés da conversa, o homem incorporou o linguagear com o emocionar e estabeleceu a linguagem como modo de estar nas coordenações de ações que ocorrem na intimidade da convivência sensual e sexual (Maturana, 1988b: 105). Ele apresenta como evidências de sua teoria: as imagens táteis que usamos para referirmo-nos ao que sentimos nas vozes da fala: dizemos que uma voz pode ser suave, acariciante ou dura; b) as mudanças fisiológicas, hormonais, por exemplo, desencadeadas com a fala; e  o prazer que temos em conversar e em nos movermos no linguajar.


As pesquisas de Maturana se interessam pela história da mudança evolutiva de qualquer classe de organismos, investigando o fenótipo ontogênico:  "é necessário, primeiro, olhar o modo de vida que, ao conservar-se no sistema de linhagens hominídeo, torna possível a origem da linguagem e, depois, olhar o novo modo de vida que surge com a linguagem, o qual, ao conservar-se, estabelece a linhagem particular a que nós, os seres humanos modernos, pertencemos” (Maturana, 1988b: 103-4).
Por exemplo, nossos ancestrais, que viveram na África há 3,5 milhões de anos, tinham um modo de viver em pequenos grupos formados por alguns poucos adultos, jovens e crianças, centrado na coleta, no compartilhamento dos alimentos, na colaboração entre machos e fêmeas na criação dos filhos, numa convivência sensual e numa sexualidade de encontro frontal.
"Esse modo de vida oferece tudo o que é exigido: primeiro, para a origem da linguagem; segundo, para que, no surgimento da linguagem, se constitua o conversar como entrecruzamento do linguagear e do emocionar; e, terceiro, para que, com a inclusão do conversar como outro elemento a ser conservado no modo de viver hominídeo, se constitua o fenótipo ontogênico particular que define o sistema de linhagens a que nós, seres humanos modernos, pertencemos."

E ainda:
“O que diferencia a linhagem hominídea de outras linhagens de primatas é um modo de vida no qual o compartilhar alimentos – com tudo o que isso implica em termos de proximidade, aceitação mútua e coordenações de ações operadas nos atos de passar coisas de uns para outros – joga um papel central. É o modo de vida hominídeo o que torna possível a linguagem, e é o amor, como a emoção que constitui o espaço de ações nos quais se dá o modo de viver hominídeo, a emoção central na história evolutiva que nos dá origem” (Maturana, 1988b: 105).

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