O exercício da minha profissão sempre foi marcado pelo contraste da realidade de alunos que estudam nas redes públicas e particulares de ensino. Logo que me formei, fui convidada para trabalhar em uma escola de elite em BH, onde, antes do início das aulas, os estudantes eram “acolhidos” por seus professores: 5 minutos para refletir valores como família, amizade, solidariedade e, como era uma escola de irmãs, a fé também podia ser tema da acolhida. Nessa escola aprendi algumas técnicas para garantir a disciplina, sempre cuidando para que os alunos não se sentissem rotulados ou discriminados. Uma das premissas era de se falar baixinho ao repreender o aluno, como dizia a madre: educando com serenidade e carinho.
Na mesma ocasião, fui aprovada em um concurso da prefeitura municipal de Belo Horizonte e comecei a dar aulas em uma escola de periferia. Lá, muitas vezes, vi os alunos serem tratados aos gritos: da diretora que esbravejava de onde ela estivesse para chamar a atenção dos alunos, aos professores que batiam forte na mesa na tentativa desesperada de conseguir o silêncio para as suas aulas.
Para mim, essa discrepância no tratamento ao longo da história escolar do sujeito faz toda a diferença quando os dois grupos se encontram, por exemplo, para concorrer a uma vaga na faculdade. Ainda que os alunos daquela escola pública, com a ajuda da Escola Plural, concluísse o ensino médio, a fragilidade de sua formação tornaria desleal essa competição.
Uma das escolas citadas acima (vamos ver se você adivinha de qual delas eu estou me referindo) preconizava o respeito pelo aluno, pelo educador e pelo espaço da aprendizagem em pequenas e grandes ações. Exemplos dessas ações: laboratórios bem montados, salas confortáveis, equipamentos tecnológicos em bom estado e acessíveis, professores bem pagos e motivados (como esquecer uma escola que, no dia do professor, presenteia seus mestres com um porta-cheque de couro recheado com um cheque no valor equivalente a um salário?!).
Como você pode imaginar, na escola pública, a minha realidade era muito diferente, mas insisto na hipótese de que é o respeito, ou a ausência dele, que produz os maiores contrastes entre as duas Redes de ensino.
Sei que apresento aqui duas caricaturas de escolas: nem todas as escolas particulares são respeitosas com o processo de aprendizagem e quero crer que existam escolas públicas que primam pelos sujeitos da aprendizagem. Mas essa é a regra?
Em uma das escolas onde atuo, foi proposto um belo trabalho de pré-vestibular solidário que atende a jovens moradores de uma comunidade carente do entorno da escola. As aulas são ministradas pelos meus alunos do terceiro ano do ensino médio e hoje eu pedi para uma das alunas mais engajadas no projeto me contar como ela se sentia dando aula para uma população carente. Ela me disse, com enorme tristeza, que por mais dedicados que seus alunos tenham sido, todos foram eliminados nas primeiras etapas dos vestibulares que prestaram nas faculdades públicas do Rio de Janeiro. Esse lamentável resultado mostra que para essas pessoas, o sistema de cotas não resolve: a base e o respeito na formação do sujeito foram negados aos cidadãos que a minha aluna se empenhou em preparar para o vestibular. Juntas, nós duas refletimos sobre as condições necessárias para a permanência dos alunos de baixa renda que conseguirão a tão sonhada vaga. Terão eles dinheiro para comprar livros ou mesmo para pagar a passagem e se alimentar decentemente no campus? Como os professores desse segmento irão lidar com a nova configuração das turmas? Na lógica dos 50%, com níveis de preparação tão distintos, como o saber será nivelado? Para manter os níveis atuais de cobrança e conteúdo as universidades terão que manejar a evasão dos alunos, como?
Assim, me parece que o sistema de cotas, embora necessário, seja por si só uma ação fácil encontrada pelo governo para o enfrentamento do acesso às Universidades públicas. Difícil será promover o Respeito: dos projetos arquitetônicos e pedagógicos às relações com os estudantes e os educadores. Será que nos contentaremos com o caminho mais fácil?
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
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Um comentário:
oi Mana, acabo de participar da reunião de Colegiado na escola da Bubu, da qual faço parte, é uma escola Estadual, e por lá temos visto a preocupação tanto da Direção, como dos Pais, e colaboradores, em melhorar cda vez mais esta Instituição,que é Publica e um direito de nós cidadões q pagamos por isso, usando ou não, com os impostos q nos são imposto.E acho q é por ai, temos q nos engajar p melhorar, a união é fundamental, buscando com carinho, repeito e cobranças, um futuro cada vez melhor, sabendo q p/ ter Futuro(faculdades Univercidades etc...) é fundamental termos o "presente" e este é agora. bZZZos
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