segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Especialistas em Educação

Ao analisar, com uma querida amiga que mora nos EUA, as questões do último ENEM e do vestibular da UERJ nos perguntamos: o que os avaliadores querem dessa moçada que tenta desesperadamente um lugar ao sol?

Lembramos que enquanto eles preparam suas brilhantes questões, os nossos políticos querem fazer mudanças decisivas no currículo das escolas. Afinal, a especialidade desses também é a educação. A prova disso é a sugestão de um deputado: acrescentar seres vivos na biologia. Um gênio! Melhor ainda é a brilhante idéia de manter os alunos na escola por 16 horas, claro que isso sem contratar novos professores e sem nenhum tipo de preparação especial da escola. Afinal, aumentar a quantidade de horas sempre foi a solução para os nossos problemas. Veja os avanços que tivemos após a exigência das 200 horas! A nossa esperança é que um dia os eleitos aprendam a lição do granjeiro científico de Rubem Alves: o que importa não é a quantidade dos ovos; o que importa é o que vai dentro deles!

A certa altura minha amiga falou de um colega que é professor de educação física na América: brasileiro casado com uma americana há 12 anos e só esse ano conseguiu entrar para a escola pública, ganhando muito pouco. Ao que parece, minha profissão é desconsiderada no globo todo. Talvez isso explique em parte os nossos problemas sociais e políticos.

Eu e minha amiga nos perguntamos quando tudo isso começou. Terceirizar a educação de berço para a escola é algo muito recente na nossa história. Ao mesmo tempo em que cabe ao educador preparar para a vida, observamos que os alunos e professores estão cada vez mais distantes. Alguns não se olham ou se falam quando se encontram na rua.

A minha amiga lamenta o enorme desrespeito com o professor e a escola no Brasil, mas como poderia ser diferente? Não se ensina aqui a valorizar esse profissional ou esse espaço. Quando o governo remunera vergonhosamente os seus educadores ele ensina que esses profissionais não têm grande valor. Recentemente visitei uma escola onde a sala dos professores é menor do que o banheiro da minha casa. Tudo era amontoado e sujo. Eu não me contive e perguntei ao diretor: você acha que essas condições ensinam o que para os alunos? A lição que eles aprendem é: "Estude, faça cursos de especialização e comece a dar aulas porque essas serão as condições de tratamento que você receberá!

Concluímos que não é só uma questão econômica. Na nossa contemporaneidade os professores sofrem constantes ameaças. Uma das mais comuns é o risco de ser processado. Para prevenir esse tipo de problema é comum que as escolas ofereçam no início de ano os cursos de "boas maneiras", principalmente para trabalhar com as crianças. Em alguns países, o professor não pode ficar sozinho com o aluno em nenhum momento, devendo procurar a companhia de uma assistente caso precise levar a criança ao banheiro.

Felizmente, eu e minha amiga ainda estamos em período reprodutivo e que bom que os professores podem ter filhos! Assim, pelo menos pontualmente, podemos mudar a história ao estimular a capacidade de amar, inclusive seus professores.


* Texto inspirado (recortado e colado) no bate-papo de hoje com a talentosíssima Érica. Ela está nos EUA acompanhando o marido, mas é impedida de exercer qualquer atividade - estudar, inclusive - por causa das restrições de seu visto. Certamente os autores dessa lei dialogam com os nossos políticos e avaliadores.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, dah gosto ler este texto, ele verbaliza varios pensamentos que jah passaram pela cabeca de todo aquele que jah trabalhou com educacao, ou que acompanham de perto vida escolar dos filhos. Um bate papo que esclarece, faz pensar e consegue trazer uma mensagem positiva apesar dos pesares. :-) Parabens!
Carla Delgado

Unknown disse...

Ei Sil, amei o desabafo. Ainda bem que existem lugares, como este, onde podemos nos expressar. E você como nunca sabe valorizar muito bem isto.
Parabéns pelo texto ficou perfeito.
Um beijo bem grande!
Érica Miranda