quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Como os Animais

Durante a abertura do Seminário que aconteceu no mês passado em Belo Horizonte: BH pelo parto Normal, Michel Odent defendeu que a prioridade hoje é MAMIFERIZAR o parto." Para construir essa tese ele se baseia em quatro princípios:

1º) A ocitocina é um hormônio "tímido" que desencadeia a contração uterina. Os fatores ambientais são determinantes na liberação desse hormônio: dificilmente ele pode ser liberado entre estranhos e observadores.

A ocitocina, também chamada de hormônio do amor, é importante nas relações sexuais, sendo que o par precisa liberar o hormônio para acontecer a relação. Assim como o sexo, o parto requer, normalmente, isolamento e intimidade, havendo apenas a presença dos envolvidos. Mesmo em relações grupais, as pessoas buscam um espaço em que se sintam seguras.

Instantes pós-parto a mulher libera o seu mais alto nível de ocitocina da vida. É o maior pico de hormônio do amor da vida da mulher. Nenhum orgasmo pode liberar quantidades tão altas! Essa grande liberação hormonal ajuda no não sangramento da placenta. A mãe precisa do bebê pele a pele, cheirá-lo e ter forte contato para liberar este pico vital de ocitocina. Essas informações servem àqueles que dão assistência ao parto para se descobrir quais as reais necessidades da mulher ao parir.

No Reino Animal, a regra é as fêmeas se recuem para um local em que fiquem isoladas e seguras sem que sejam observadas durante o parto. Nos grupos humanos mais remotos, as mulheres se isolavam para dar à luz. Nas comunidades as mulheres buscavam as "cabanas" de partos que ficavamem locais isolados onde todas davam à luz. Sempre houve a separação do grupo para parir, mas não muito longe de suas mães ou de outra mulher experiente que pudesse protegê-la de animais que pudessem estar por ali - em geral, não temos vergonha de nossas mães, por isso a ocitocina pode ser liberada na presença delas. Essas mães/mulheres são as precursoras das parteiras. Veio a socialização do parto. A parteira passou a existir e se tornou uma agente, uma guia da parturiente, e não uma observadora silenciosa. Muitas vezes elas agem de forma invasora, ensinando a mulher o que fazer. As mulheres passaram a dar à luz em ambientes domésticos. Ensinar a parir é falta de compreensão de como funciona a ocitocina. A mulher precisa apenas não se sentir observada e pressionada. Em toda a história houve a exclusão dos homens da cena de parto. Já no século XX houve a masculinização do cenário de parto, e em especial, na década de 70 entra o pai para a cena.

2º)O hormônio adrenalina impede a liberação da ocitocina em mamíferas. Adrenalina é o hormônio da urgência, que prepara o corpo para agir.

Para deixar a ocitocina fazer o seu trabalho de parto é necessário músculos relaxados e não energia, carboidratos e glicose. Quando uma mamífera se retira para parir e se sente segura, o hormônio do amor faz o seu trabalho. Entretanto, se ela percebe um perigo, um predador, imediatamente há liberação de adrenalina e seu trabalho de parto é eficientemente interrompido para que seu corpo seja capaz de fugir. Só então quando se sentir segura novamente, voltará ao trabalho de parto. A fisiologia seria ineficiente se ela tivesse que correr com o filhote descendo pela vagina, por isso pára tudo quando há sinal de perigo.


3º) Comparadas a outras mamíferas, as humanas têm partos difíceis e longos. Isso se dá pelo córtex desenvolvido que temos. O cérebro do intelecto, a área
cerebral responsável pela racionalidade, é uma deficiência durante o trabalho de parto. As inibições à ocitocina vêm desta área cerebral, tanto para o
sexo quanto para o parto. Para o bom parto, o córtex tem que parar de funcionar, relaxar. É por isso que muitas mulheres esquecem o que está acontecendo em sua volta durante o parto e são pouco polidas, ficam de quatro, se comportam como se estivessem em outro planeta. Tudo isso significa que o córtex diminuiu sua atividade.

Por isso não se deve estimular o córtex, o campo racional da mulher durante o parto.
Principais estímulos: linguagem. Dos mais fortes estímulos. O silêncio é o maior aliado do parto. Luz. Imagens visuais em geral. Por isso menos luz.

4º) Eliminar tudo que é humano: crenças e rituais que interferiram com o processo de parto. É preciso sair dos efeitos desses rituais. Um exemplo: a separação de mãe e filho em vários momentos da história da humanidade. Em tempos de não civilização, as mulheres pariam e o bebê era levado ao chefe/líder da tribo para uma preparação ou avaliação da criança para depois se integrar à comunidade. Em tempos atuais, o bebê nasce e vai para as mãos do pediatra que faz o mesmo que seus primórdios, avalia se o bebê pode viver na comunidade, e o prepara para tal. Em um momento da descoberta do parto natural, houve a conduta de passar o bebê ao pai assim que nasce para que eles iniciem um vínculo afetivo mais precocemente. Em todas as situações, em diferentes lugares e tempos, é conduta HUMANA separar mãe de bebê. Essa conduta deve ser dispensada, assim como tudo
que é humano.

Fechando a palestra: o neocórtex tão avançado que o homem desenvolveu torna o hormônio do amor inútil. E qual é o rumo desta sociedade?

* Adaptado de http://www.ibfan.org.br/noticias/noticia.php?id=329.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este assunto é muito interessante e foi a discurssão da aula passada, eu agredito que o ambiente, o si conhecer, a luz, influência e muito, mas estou trabalhando em uma maternidade publica e é uma flustração, pois o parto é visto como um ato médico, onde o Dr. é que dar as ordens.
Angélica, enfermeira