No trecho mais animado, Chico, só ele poderia dizer algo tão singelo e talvez por isso tocante: Nós gatos já nascemos pobres. Porém, já nascemos livres! Enquanto ouvia Vanessa e me divertia com os gatos, fiquei pensando nas personagens do filme "Lixo Extraordinário". Um filme para ser visto, mais de uma vez, para digerir todo aquele chorume que é despejado na nossa cara, cada vez que a câmera se posiciona debaixo para cima, enquanto o caminhão despeja montanhas de lixo. O local é o aterro de Gramacho onde inúmeros trabalhadores buscam algo de valor naquele mar de lixo.Convidadas por Vick Muniz, um artista de grande repercussão internacional, alguns desses catadores de material reciclado encaram um desafio: transformar esse material em arte. Até então, essas pessoas apenas separavam e vendiam o que achavam, mas aprenderam a olhar para a matéria de um modo diferente, e mais ainda: a se verem de um modo diferente. Olhar para a sua condição, inclusive para a sua profissão como algo que pode ser transformado é no mínimo diferente. Com uma mão amiga, fica mais fácil tomar coragem. Vick foi essa mão, mas ele recebeu em troca muitas outras mãos que lhe ensinaram que é possível viver com bom humor, mesmo entre os urubus e que, com sensibilidade, é possível ter acesso à cultura até no lixão. Espero que ele retribua a altura, porque o povo brasileiro, que ele chama de "classista" no início do filme, está ávido para ver exemplos de generosidade e patriotismo.
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