A sessão seguida de debate com o filme Parto Orgásmico (Orgasmic Birth Documentário. Estados Unidos, 2007. 87min) foi uma experiência excitante. Mais pelo debate, devo confessar! Não que o filme seja ruim, pelo contrário. Ele é dirigido por Debra Pascali-Bonaro, uma doula sonhadora que resolveu mostrar para as pessoas que existem outras opções além de um parto com inúmeras intervenções como costuma ocorrer nos hospítais.
As primeiras cenas do filme são realmente encantadoras: um casal namora no jardim, pouco antes do nascimento do seu filho, experiência essa que acontece no deck da piscina. Na maioria dos partos apresentados, as mulheres estão em casa, ao lado de seus companheiros, mas ao mesmo tempo, em outro mundo. Elas se comportam como quem vivencia um momento de êxtase sexual. Mas no filme também estão presentes as experiências hospitalares: a indução do parto e o monitoramento fetal são apresentados como práticas que elevam a incidência dos partos cirúrgicos. As entrevistas com esses pais que tiveram seus filhos nessas condições escancaram a submissão de quem tudo aceita em nome do bem estar da mulher e do bebê.
Entre um parto e outro, ouvimos diversos especialistas: educadores perinatais, obstetras, pesquisadores e parteiras. Enquanto eu ouvia essas profissionais e assistia a atuação delas (no filme, a maioria dos partos orgásmicos eram realizados por parteiras) fiquei me perguntando se a extinção dos cursos de parteiras não seria uma forma velada de corporativismo médico. Além disso,também me incomodou a ausência de Michel Odent no filme. Sobretudo nas cenas em que eu ouvia os especialistas transmitindo idéias que certamente aprenderam com ele.
O filme termina e a platéia que lotava a sala do Centro Cultural de Justiça Federal aplaude com entusiasmo. Em seguida, o debate que conta com as presenças da diretora, de Dafne, representando o Ministério da Saúde, de um representante da classe médica Ricardo Jones, de Heloisa Lessa, representando as enfermeiras obstétricas e da Fadinha, que representava as doulas. Evidentemente nenhuma parteira estava presente.
As apresentações dos membros que compunham a mesa foi breve: Debra apenas agradeceu por seu filme ter sido selecionado em um festival tão importante; Dafni falou das políticas públicas que contribuem para diminuir os casos de cesariana na rede pública; Ricardo defendeu que a humanização não pode ser uma "modinha da classe média"; Helô lembrou que as mulheres que se submetem aos partos em casa nos grandes centros são consideradas loucas e que o tratamento dado aos profissionais que fazem esse trabalho também é pejorativo e a Fadinha contou uma experiência recente com uma gestante que vivenciou um parto orgásmico.
Eu aproveitei aquele momento oportuno para esclarecer algumas coisas que me intrigaram durante a sessão. Para a Debra perguntei se a ausência de Odent no filme se devia ao fato de ultimamente ele defender que a presença do pai no momento do parto pode inibir a liberação da ocitocina, o hormônio do amor que apresenta um papel fundamental no momento do parto. Considerando que a presença do pai no filme é um dos eixos centrais do filme, é possível que a figura de de Odent destoasse daquele contexto. Entretanto, ela afirmou que Michel Odent foi entrevistado mas a qualidade das imagens não permitiram que elas fossem incluídas. Como não havia orçamento suficiente para repetir a entrevista, ele ficou de fora. Já para a Dafni perguntei sobre as ações do governo para reverter a extinção dos cursos de parteiras. Ela afirmou que o governo superou o modelo americano ao eliminar os cursos de parteira nos anos 70. Segundo ela, o Ministério da Saúde tem capacitado as parteiras tradicionais - é assim que as profissionais que não tem diploma de médico ou enfermeira obstétricas são chamadas.
Fiquei ruminando essas duas respostas. No caso de Debra, a falta de qualidade das imagens não explica pois haviam outras cenas que não podem ser consideradas cinematográficas e mesmo assim foram mantidas. E considerando a proposta do filme, a relevância das idéias prevalece sobre a qualidade técnica. Mas no caso das políticas públicas é absurdo perceber que o governo apoia as parteiras, desde que elas atuem nos rincões do Brasil, onde não é conveniente a atuação dos atuais detentores do poder de partejar. O que aconteceria a essas parteiras se elas resolvessem atuar nos grandes centros? Penso que se elas tivessem essa ousadia ampliaríamos a incidência de partos orgásmicos no Brasil!
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
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Um comentário:
Muito bom amor, Parabens!
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