Na semana passada enfrentei uma fila gigante no Banco do Brasil. Enquanto aguardava para ser atendida, observei o elevado número de idosos presentes na agência. Uma explicação para esse fato é que a agência fica ao lado da Gerência Executiva da Previdência Social, na Rua Pedro Lessa. Me impressionou a "cordialidade" no atendimento desse público: como se não bastasse o tom sedutor e o olho-no-olho, um dos atendentes costumava tocar suas clientes. Lado a lado, os discursos dos atendentes eram sempre os mesmos: "Quantos anos a senhora tem?" (cara de espanto) "Nossa, não parece!" A conversa nem rendia muito, até que a pergunta central fosse feita: "Vamos fazer um título de capitalização para a senhora? A senhora concorrerá a muitos prêmios!"
Em certo momento, uma senhora corajosa perguntou: "mas eu fiz da última vez e perdi 200 reais!" Sem perder a pose o "vendedor" explicou que agora ela poderia fazer um plano de 12 meses. "Esse passa rapidinho". Bingo! A senhora sorriu sem graça e aceitou fazer.Com um olhar distante, cheio de tristeza, carência, pressa, esperança e outros tormentos, a mulher deixou a agência de cabeça baixa. O vendedor em silêncio comemorou. Que vergonha BB! Espero que esses clientes de vida longa tenham fôlego para buscar seus direitos.
Fiquei pensando na minha mãe sendo convencida a entregar suas limitadas economias. Uma vez ela me contou toda alegre que fez um "título de capitalização". Será que ela sabe a data do vencimento desse título que comprou? Se ela não souber e não procurar, para quem fica esse dinheiro?
Saí da agência com a cabeça cheia de perguntas: o que acontece com o montante depositado pelo governo para as aposentadorias quando o aposentado não aparece para buscar? O banco que recebe esse dinheiro pode movimentá-lo? Se sim, os aposentados ou o governo recebem uma parcela desses rendimentos? Qual é o destino do dinheiro de um aposentado que morre e nenhum parente se apresenta para buscar o dinheiro ou para comunicar o óbito?
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
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