sábado, 1 de março de 2014

Escola Pública não é bicho papão

Hoje eu estava comentando com amigos sobre a coragem de colocar um filho em uma escola pública. Muita gente está migrando os herdeiros para o ensino gratuito: eu inclusive. Uma das razões é pra que eles não herdem o amargo endividamento dos pais: as mensalidades estão cada vez mais sem noção!

 Driblar o medo do sucateamento do ensino público pode não ser uma má ideia. A comunidade escolar tende a ser melhor, quanto mais pais instruídos participarem ativamente dela. É claro que isso vai exigir um considerável esforço pra correr atrás do que não estiver sendo dado. Mas isso também pode significar crescimento porque a família terá que incluir programas culturais e viagens em sua agenda.  É bem possível que sobrem tempo e dinheiro pra isso. Se o casal tiver dois filhos e morar no Rio de Janeiro, a economia é de cerca de dois mil reais por mês. Imagine se a metade disso for investido na  formação (essa sim global) da família?

Além disso, tem muita coisa pra criança aprender em uma escola pública, por exemplo, que ela não é o centro do Universo. Dificilmente haverá gente passando a mãozinha na cabeça do seu filho. Tudo o que é demais sobra: mimos inclusive!

Esse ano eu tenho levado as minhas duas filhas à escola. A rotina de acordar e dormir muito cedo e passar mais tempo juntas tem nos feito maravilhosamente bem. Quando chegamos na escola da minha mais velha, agradecemos à Deus pelo mar prateado que nos saúda no Forte da Urca. Se por um lado ela estranha a facilidade de algumas matérias, agora ela convive com uma realidade muito mais próxima da realidade dela. Um pouco de pé no chão é fundamental na infância. E não acho que tenho que temer algo em relação ao conteúdo: estou segura quanto à competência dos meus colegas de trabalho.

A escola da minha filha mais nova homenageia a professora Sarita Konder, uma educadora que deixou um legado para o ensino infantil: a própria casa onde ela viveu. As instalações são primorosas e os profissionais são cordeais e bem preparados. A mesma professora que leciona em uma das escolas mais conceituadas do Rio está atuando lá, sendo que para trabalhar nessa instituição, ela teve que prestar concurso.

Enfim, reconheço que essas duas realidades de escolas não são a regra do ensino público no Brasil. Mas também penso que, com tantos impostos, todos podem exigir mais do que tem feito e ocupar o espaço público, sem medo de ser feliz. Para pensarmos juntos: a quem interessa que as escolas sejam tão caras? E ainda: que relação existe entre o medo da escola pública e o valor cobrado no ensino privado?


2 comentários:

Unknown disse...

Concordo plenamente. Os impostos pagos por brasileiros são mais do que suficientes para suprir um ensino público competente. Infelizmente, esse não é o caso devido à incompetência de certos políticos e frequentemente de nós mesmos...

Estou atualmente fazendo um intercâmbio na Alemanha de 3 meses, e estou visitando diariamente uma escola pública. Diria que é melhor que a maioria das escolas privadas no Brasil: com 10 mil metros quadrados, o complexo escolar abriga mais de 2 mil alunos que se apropriam de salas de química, física e biologia (com bichos vivos e tudo), 3 ginásios para esportes, bibliotecas, salas tecnologicamente equipadas, bibliotecas, salas de artes e música (com vários instrumentos) e duas cantinas. O currículo escolar contêm 4 linguas (alemão, francês ou latim, espanhol e inglês) e as salas com até 35 alunos são na maioria dos casos totalmente disciplinadas. Comparar um Brasil com um país Europeu é injusto, mas acho que temos potencial para alcançar um patamar desses.

Fico feliz que essa escola na Urca seja bem infraestruturada e seja 'aceita' por você. Mas, como você disse, duvido que esse seja o padrão no interior brasileiro.

Luciana disse...

Sou professora do ensino público e não troco meu emprego por escola particular alguma.
Tenho liberdade para trabalhar e consigo tornar as minhas aulas diversificadas, felizes, sem ter a cobrança de um sistema apostilado e fechado. O meu conteúdo é o mesmo dado na escola particular, faço questão de dar um ensino de qualidade para minhas crianças. Tenho dificuldades no quesito de suporte extra: xerox, certos materiais, etc.. mas dou meus pulos. Amo o que eu faço e procuro fazer o meu melhor. Escola pública, verdadeiramente, não é um bicho papão não.