domingo, 17 de julho de 2011

Associação de Pais de atores e atrizes mirins

Você já viu "A Pequena Miss Sunshine"? Eu amo esse filme! Ele é uma crítica bem humorada aos pais que são capazes de fazer qualquer coisa para que seus filhos alcancem o estrelato. Atire a primeira pedra quem nunca sonhou com o filho  ou a filha virando super star...


Hoje uma amiga me contou que já assistiu coisas "sinistras" em processos seletivos de elenco formado por crianças. Fiquei preocupada porque a minha filha é cadastrada em uma agência de modelos e de vez em quando é chamada para testes. Via de regra, os pais não podem assistir os testes. Assim, entregamos nossos filhos à pessoas estranhas e caso aconteça algum dos episódios sinistros relatados por minha amiga, nunca saberemos.

Fico pensando nas razões que tornam os pais tão complacentes com esses vendedores de sonhos. Esse deslumbramento dos pais não é exclusividade dos brasileiros. Veja o que acontece na China:



 Eu relutei bastante até levar a minha filha até uma agência e quando cedi aos apelos dela, procurei uma empresa de renome, mas isso não impediu que eu assistisse situações desagradáveis.  No último teste em que minha filha participou, para uma propaganda da VIVO, as crianças esperaram horas, em um lugar absolutamente inadequado: um pequeno corredor, sem nenhuma atividade para elas, onde algumas ficavam sentadas em uma escada, que continuava sendo usada por adultos. Caso houvesse algum acidente, quem se responsabilizaria por aquelas crianças? A agência que chamou a criança para o teste ou a empresa que fazia a seleção? Aposto que, mais uma vez, o prejuízo ficaria na conta dos pais que não recebem nenhum tipo de ajuda financeira para levar as crianças ao teste.

Caso a criança passe no teste, os agentes ficam com uma boa fatia do cachê, percentual que pode chegar à 40%, que somado à remuneração paga pelas empresas de publicidade ou pelas emissoras de TV, fazem o negócio ser altamente rentável. Era de se esperar que as agências cuidassem para que os atores mirins realizassem os testes em condições dignas. Mas nem os que agenciam, nem os que selecionam demonstram ter grande preocupação com o universo infantil, por isso não providenciam brinquedos, livros, material de arte, lanche ou qualquer outro elemento que faça a criança se sentir considerada como pessoa. Ali ela é um mero produto.

As crianças, mesmo quando não são atores ou atrizes, costumam ser exploradas pela indústria publicitária. É o que mostra a primeira parte do documentário "Criança a alma do negócio" (veja também as cinco partes restantes que podem ser encontradas no YouTube):



Se, enquanto assistem passivamente uma propaganda ou um programa de TV, as crianças estão vulneráveis, imagina quando essas crianças trabalham ou pretendem atuar nesse mercado? Os pequenos astros ou aspirantes da fama dependem da proteção de seus pais e dos órgãos competentes, para prevenir inclusive os casos de abuso sexual. Os pais devem se organizar em associações e exigir o direito de assistir os testes e as filmagens, ainda que fiquem escondidos para que essa presença não interfira na atuação dos pequenos. Além disso, é preciso que pais e profissionais discutam protocolos de conduta, nas mais diferentes situações.

Uma das coisas que minha amiga relatou, e o que motivou esse texto, foi que em um teste de elenco, uma criança contracenava com um ator que faria o papel de seu avô. Esse ator foi deixado sozinho com a criança em determinado momento e  a câmera continuou filmando. Mais tarde, a equipe assistiu o ator "alisando" a criança. Segundo minha amiga, o ator foi dispensado. E só. A mãe não foi comunicada e o profissional não foi denunciado. Essa mãe, provavelmente levou uma criança diferente para casa. E provavelmente nunca saberá a razão das mudanças do comportamento da filha. Essa filha poderia ser a minha. Poderia ser a sua!

3 comentários:

Silvania Santos disse...

Usando o Google, não encontrei relatos de abuso sexual durante testes de elenco. Isso pode ser explicado pelo fato de as empresas optarem pelo silêncio quando descobrem situações como a relatada acima Mas esse caso merece destaque:

http://www.meionorte.com/noticias/jornais-e-revistas/atriz-quer-processar-tv-por-abuso-de-ator-que-fazia-seu-pai-em-serie-125224.html

Um dia, ainda que seja tarde, a verdade vem à tona.

Anônimo disse...

É é assim... a criança ganha de 600 a 1500 reais por propaganda se não tiver fala (se tiver fala, é mais ainda)... e ainda quer que um carro leve e busque? A mãe que levou a criança na agência é a mesma que vai levar pro teste, é a mesma que vai levar pra filmagem, ué. Essa mãe tem carro da empresa com motorista por acaso, pra ir trabalhar?

E área pra brincar... bom, num set de filmagem tá todo mundo louco SEMPRE, se der algo errado são MILHÕES desperdiçados (isso se a filmagem atrasar 1 horinha tem q pagar meio cachê pra TODOS que estavam ali, as 300 pessoas q estava ali...), acha que alguém vai mesmo ficar animando a criança? A mãe vai junto pra cuidar, pra não deixar ela fazer bagunça, pra não cair, e mesmo assim, se cair, com certeza vai ter alguém da produção que vai tomar as providências, tbm não vai ser um Deus dará.

E comida? Poooo.. tem refeição, frutinha, salgadinho, docinho, o tempo todo, quer que sirva na boca da criança??? Se não viu, pergunta pra um produtor que ele e ensina a mãe a chegar na mesa de comida e dar pra criança!

Se não quer que a filha seja submetida a essa situação toda, não leva ela numa agência, não aceite que ela faça propagandas, afinal são os pais que mandam nos filhos.....
Ah, mas esqueci, o cachê é bom demais né, então se aceita, mas depois reclama....

Pelo amor, né.... é os 40% comidos pela agência realmente é muito, mas isso é problema só seu e da agência, acha mto tbm? Então não entra na agência... E deixa de ganhar com 1 dia de trabalho os 600, 1500, 3000 reais......

Fato! Cada mercado a sua maneira, quem não gosta, não entra.

E na boa, mais chata do que as crianças em filmagem são MIIIIL VEZES as mães delas, seria até melhor pagar alguém pra tomar conta e as mães nem irem pra filmagem, mas é que tem que ir, justamente pra depois não vir com papo de abusos e bla bla bla.

Silvania Santos disse...

Não tenho o hábito de publicar comentários de "anônimos", porque se um leitor não se identifica, não é capaz de se expor e portanto não merece que sua opinião seja exposta. Mas dessa vez resolvi publicar porque essa opinião reflete, lamentavelmente, o pensamento de alguns profissionais do ramo.