sexta-feira, 1 de abril de 2011

A chegada de um Baby Down

Minha filha tem um amigo com síndrome de Donw na sala dela. Esse amiguinho trouxe um mundo novo para a turma e as crianças tiram de letra as diferenças. Esse ano, participei da caminhadow, um evento pensado para estimular a inclusão. A mãe do Rafa, o amiguinho da Luluty, se destacava entre os organizadores. Então, fiquei curiosa e perguntei para ela:




Carla, o que houve de mais marcante na sua trajetória entre a aceitação de gerar um bebê com trissomia 21 (outro modo de chamar a síndrome de Down) até a militância em favor dessa causa?



A resposta dela chegou hoje e com muita alegria quero dividir com você:








Silvania,


Nós não tivemos diagnóstico pré natal da síndrome de Down. Soubemos apenas na hora do parto. Quando cheguei ao quarto do hospital, após o parto, fui avisada pelos médicos em um clima de profundo pesar que meu filho havia nascido com síndrome de Down.

Me senti suspensa no ar por alguns instantes, depois cai. Da euforia imensa de dar à luz, fui para o extremo oposto. Me senti perdida na escuridão. Todos os planos, todas as expectativas, não cabiam mais. E agora? Não sabia o que esperar, o que pensar. Sentia um vazio imenso. Vazio aumentado pela ignorância, como é uma criança com Down? O que posso esperar para o futuro? Um adulto eternamente dependente dos pais?! E se eu morrer antes, o que será do meu filho? Não, ele não pode ser um peso para sua irmã!

O espaço ocupado pela ignorância e pelo preconceito dava lugar a imagens e pensamentos aterradores que passaram a povoar meu imaginário durante os dias que se seguiram.

Aos poucos, fui percebendo que quando estava olhando e amamentando meu bebê, não existia tristeza alguma, só alegria. Seu rostinho tão lindo, só podia ser o rostinho de um anjo! E como anjo que é; não traz consigo tristeza alguma. Cada vez que olhava para o Rafael, meu coração ia sendo invadido por amor, tanto amor, tanto amor mas tanto amor; que todos os pensamentos trazidos pela ignorância e pelo preconceito ficaram sem espaço ali. Me deixei conquistar pelo meu filho e percebi que o bebê que idealizei durante a gestação estava ali.


Percebi também que todo o estresse que passei foi por desinformação. Foi por não ter tido a oportunidade de conviver com nenhum tipo de deficiência durante toda a vida. E, a partir desta constatação, decidi ter como bandeira a divulgação de informação de qualidade sobre a síndrome e a inclusão dos indivíduos com SD na sociedade. Desta maneira, as futuras mães de crianças com Down não passariam pelo que eu passei. Os bebês poderão ser plenamente acolhidos por seus pais desde o primeiro momento após o diagnóstico.


* Carla Codeço é mãe do Rafa e da Joana. Ela é arquiteta e é casada com o biólogo Carlos Figueiredo. Eu fiz uma pergunta para ele também. Mas o relato de Carlos ficará para outra oportunidade.


Além desse emocionante relato, Carla nos presenteou com duas pérolas:







“O que perturba e assusta o homem", disse Epíteto, "não são as coisas, mas suas opiniões e fantasias sobre as coisas" (Cassirer, 1994 Ensaio sobre o homem. São Paulo, Martins-Fontes p.49)






"Não é a deficiência que decide o destino das pessoas, mas as consequências sociais dela." 
Vygotsky

Um comentário:

Luis Santos disse...

Emocionante é pouco mesmo. Carla escreve com o amor que sente por Rafael. Nos leva até a sala de parto e nos faz sofrer com ela. Nos leva até a cadeira de amamentação e nos faz amar como ela.

É bom que, no mundo, existam pessoas como ela.