quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ser mãe ou trabalhadora?

Ontem eu estava ouvindo um obstetra alertando que, até os 25 anos, os casos de síndrome de Down costumam aparecer em uma, a cada mil e duzentas gestações. Já aos 45 anos, essa doença aparece em uma a cada trinta e cinco gestações. Comecei a pensar nas razões que tornam cada vez mais comum que as mulheres protelem o sonho de ser mãe, mesmo sabendo que a gestação tardia é cercada de riscos para a mulher e para o bebê. 

Pensei nas mulheres que conheço e que encararam a idéia de ser mãe mesmo quando essa opção era incompatível com a empregabilidade delas. Pensei também nas mulheres que perseguindo a idéia de mãe perfeita ou por falta de oportunidade, abriram mão de seus empregos e se tornaram mães em tempo integral. Eu estou no grupo das que diminuiram o ritmo de trabalho para garantir que minha filha tivesse um acompanhamento maior, mas essa escolha tem impacto no orçamento doméstico e na balança de participação que parece sempre injusta para os dois lados.

Considerando que no Brasil são raras as corporações que oferecem horários flexíveis e possibilidades de trabalho à distancia para as mulheres em fase reprodutiva, precisamos aprender com a experiência de outros países que desenvolveram modelos para amenizar a angustia das mães trabalhadoras. Alguém já levantou o que o desperdício dessa mão de obra representa para o nosso país? Não tenho esses dados, mas suspeito que empregar essa mão de obra seja um bom investimento porque a competência e a sensibilidade adquiridas durante a experiência materna trazem um diferencial para a empresa.

A jornalista Cyntia de Almeida defende um ousado modelo criado pelos suecos: eles oferecem 13 meses de licença remunerada que podem ser divididos entre os pais, sendo que os papais devem ficar pelo menos dois meses com os filhotes! Com Cyntia aprendi que apesar da resistência dos machões suecos, o modelo concedeu na última década um enriquecimento no convívio familiar, no índice de felicidade das mulheres, que passaram a ocupar postos-chave no mercado e, ao contrário do restante da Europa, diminuiu o índice de divórcios.

Não é por acaso que outros países estão copiando o modelo. Na Alemanha ele foi implantado em 1995. O mercado brasileiro deu um micro salto com a ampliação da licença maternidade, de 4 para 6 meses - ainda é tímida a adesão das empresas que aderiram a proposta. Temos um longo caminho até a Suécia, talvez nunca chegaremos lá. Mas seria um avanço ver os pais tomando para si essa tarefa de ficar com as crianças.
 Ao deixar seus postos de trabalho, para cuidar da cria, os nossos machões experimentariam a dor e a delicia de educar em tempo integral. É possível que isso mude o modo de alguns patrões encararem as funcionárias mamães.

2 comentários:

Professora Lu disse...

Meu sonho é ser mãe, e por diversas razões acabo adiando... Mas, sei que um dia meu ventre dará a luz a uma linda criança... e que será muito amada!

reagentes disse...

Como diz o ditado é uma faca de dois gumes essa questão!