quarta-feira, 7 de julho de 2010

Professor Miserável?

Hoje recebi uma imagem-piada sobre o professor e tive vontade de escrever sobre ela.



Tenho quinze anos de magistério e, felizmente, não me reconheço na figura miserável acima. Parte da minha sorte está no fato de eu não manter minha família sozinha e... confesso... de meu marido não ser professor também. Mas há outras razões para não me sentir uma desgraçada: sou professora por paixão e por opção. Na época de faculdade, fui estagiária em laboratórios de análises clínicas, pesquisei repelentes naturais, estive no projeto TAMAR.... mas o local que eu escolhi ficar foi a sala de aula. Educar é árduo sim, mas também gratificante.Bom seria se a gratificação que sentimos ao participar ativamente da construção do conhecimento refletisse também em excelentes salários.

Todo professor deveria ganhar muito bem e trabalhar pouco.  A sociedade deveria enxergar o mestre como um modelo e não como um pobre coitado. Como resolver esse dilema: educadores devem ser cultos, mas cultura custa caro? Alguns políticos propuseram "vales", mas mantiveram o salário baixo- o educador recebe um bilhetes para frequentar cinema e teatro ou comprar livros. Alguns profissionais se ofendem com tal política e dizem que não precisam de esmolas.  Outros reclamam que a rede estadual e municipal pagam salários baixíssimos mas continuam se submetendo e levando a revolta para a sala de aula.  Não consigo entender porque os concursos para professores desses órgãos têm tanta procura. De um lado, os colegas que abandonaram o magistério - há os que preferem vender biscoito Globo, de outro os que lamentam, destratam alunos ou fingem que ensinam.

Os jovens que estão escolhendo uma profissão deveriam olhar para seus educadores e ver pessoas realizadas. Para isso, não basta que seus mestres sejam melhor remunerados. Até porque nem todos os professores reclamam do salário. Há escolas que pagam um pouco mais e, por isso, exigem tanto de seus mestres que também os tornam miseráveis. A avalanche de atividades que esses profissionais enfrentam impedem que eles convivam com os filhos, os parceiros, os amigos.... Com tanto trabalho, quando esses profissionais poderão fazer um programa diferente e divertido? Talvez esses possam consumir produtos culturais, mas não podem desfrutá-los porque a sobrecarga do trabalho não permite.

Por isso, recomendo aos meus colegas professores que invistam em novas profissões-paixões como culinária, teatro, pesquisa... Assim, espero que no futuro eles consigam viver com qualidade mantendo uma carga-horária pequena, apenas nas escolas que remunerarem bem, sem exigir desenfreadamente. Ao mesmo tempo, torço para que no futuro o magistério possa ser uma opção de trabalho reconhecida, sobretudo por quem nos governa ou dirige a escola. O que mais importa é que meus colegas não se identifiquem com a imagem do professor miserável -  por receber baixo salário ou  negligenciar a família e os amigos.

2 comentários:

Sueli disse...

Oi, Silvania
Adorei seu artigo! Maravilhoso!
Quero que saiba que embora eu tenha lhe repassado a piada penso exatamente igual você.
Vejo alguns professores reclamarem e desistirem da profissão, não sem razão.Tenho duas irmãs que são professoras, também cursei o magistério mas nunca lecionei, descobri que não tinha vocação.
Uma vez li estampado em uma camiseta um escrito que dizia assim: Você pode ser um arquiteto, engenheiro, médico ou advogado, mas precisou de um professor para chegar lá.
Gostei! Realmente é lamentável que no nosso país uma das carreiras mais bonitas e necessárias do mundo não tenham o reconhecimento e nem o retorno financeiro que os profissionais da área merecem.
Pelo amor, paciência e atenção que diariamente dedicam aos nossos filhos e também pelo desgaste e responsabilidade em auxilliá-los no seu aprendizado e educação esses profissionais deveriam ganhar bem mais trabalhando bem menos.
Só nos resta torcer para que um dia isso mude.
Bjs
Sueli

Anônimo disse...

Por isso, como consta nessa reprotagem, SEM HABILIDADE COM NÚMEROS, Junia Oliveira, O Estado de Minas, 08/06/2010, eu acho mesmo que essa crianças não aprendem matemática por algum defeito genético.