A tentativa de delimitar o parto como território exclusivo dos médicos, remete-me à figura dos grileiros que ocuparam terras devolutas na Amazônia e que recentemente foram agraciados com a posse dessas terras. O paralelo é inevitável, porque aprendi que antes do primeiro médico levar uma gestante para um hospital, os partos aconteciam em casa ou em qualquer outro local onde a mulher se sentisse confortavelmente segura e que o simples fato de levar a gestante para um hospital não aumentou a chances de sobrevivência da mulher e nem a do bebê e em alguns casos, expôs ambos a novos riscos. Por isso, consigo entender a resistência de algumas mulheres: parir no hospital, sobretudo para as mulheres que mantiveram as suas tradições culturais, é assustador.
Pesquisadores se empenham em ouvir os relatos de tratamentos que desconsideram as mulheres gestantes, mas nem sempre esses relatos são discutidos amplamete com a sociedade, até porque ferem o interesse dos poderosos. No dia do nascimento da minha filha, deitada em uma maca fria, ressentida por não ter sido considerado o meu plano de parto e estar prestes a ser submetida à um parto cirúrgico, desejei abraçar a minha obstetra. Talvez por não poder abraçar a minha mãe ou simplesmente por agradecimento à profissional que me assistia. Mas o meu ato foi retribuído por uma bronca e seguido por uma correria para a troca de avental e luvas. Em silêncio e sem graça por eu ter "contaminado" a minha médica, fiquei pensando que nem de longe esse tratamento frio e asseptico era o que eu esperava receber no momento mais especial da minha vida: a chegada da minha filha. Por isso e por tudo o que aprendi com Michel Odent e meus mestres/colegas do curso Ecologia do Parto, invejo, com toda a minha força, as mulheres que pariram ao lado de profissionais sensíveis na Casa de Parto de Realengo.
A Vigilância Sanitária, como órgão promotor da saúde, deveria estar mais preocupada em garantir a diminuição da incidência de partos cirúrgicos e exigir que a sala de parto seja um ambiente relaxante ao ponto de diminuir ou dispensar a utilização de drogas na hora do parto e que os profissionais tivessem o compromisso de favorecer o vínculo entre a mãe e o bebê. Se essa "Vigilância" mobilizasse a nossa sociedade, inúmeros profissionais, médicos inclusive, estariam, agora, com as barbas de molho.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
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