"0 medo de amar é o medo de ser livre para sempre estar onde o justo estiver."
Beto Guedes

Se a chance disso acontecer for remota como eu suspeito, como explicar o sucesso que esses sites fazem, inclusive entre gente que se julga esclarecida e bem sucedida?
Talvez essas pessoas não busquem um relacionamento de fato, mas ampliar sua rede de contatos. Se for só isso, porque tanta gente afirma que deseja se relacionar? Essas pessoas iludem ou se iludem?
Os sites do amor (?) são alternativas para quem não tem muita paciência pra baladas ou não tem muito jeito na abordagem presencial. Como em uma vitrine, as pessoas escolhem seu par de acordo com suas expectativas ou a absoluta ausência delas. Nem sempre os usuários se dão conta de que quem escolhe, também está sendo escolhido. Os sujeitos se alternam nos papéis de consumidor e produto.
Me parece que o que prevalece nessa ciranda é a ilusão de saciedade afetiva. Alguns passam a ter fartas opções e, quando se encontram com uma delas, ficam na dúvida se a próxima não seria melhor.
Um relacionamento real exige paciência - para quê enfrentar o lado obscuro que existe no íntimo de todo mundo se é possível ficar na superfície sempre bela? Mas essa confortável posição custa não poder contar com o outro nas horas difíceis. A superfície nada sustenta.
Até que ponto os homens, mesmo os que não assumem o seu machismo, lidam bem com a ideia de sua parceira estar entre as favoritas de outros? Os que fingem não se importar, correm o risco de ficar indiferentes. Por sua vez, as mulheres, seres que costumam adorar ser cortejadas , terão que se contentar com a neurose do macho ou com a frieza do durão.
Assim, nada se constrói. Não há envolvimento. Até porque todo mundo quer estar solto, para as novas possibilidades. E de par em par, uma solidão "nada virtual" se instala, talvez maior do que aquela que incomodava antes do cadastro.
Será que sentiremos saudade da época em que os pais decidiam sobre os nossos pretendentes? Se é verdade que a ansiedade aumenta proporcionalmente ao número de escolhas, estariam esses sites incrementando a indústria da depressão? Quem vai tratar os transtornos de toda essa gente amorosamente frustrada? Quem vai se manter amando, sem medo de ser feliz, depois de tantas tentativas malsucedidas? Apenas os mais aptos e os que contam com o acaso. Ou seja, os que, a despeito de tudo isso, conseguem ser autênticos e encontram alguém na mesma sintonia. Há também os que não se aventura no universo do amor virtual. Mas esses possivelmente não se interessariam por esse assunto.