quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Aborto na visão feminina e médica

O corpo feminino apresenta os aparatos necessários para viabilizar a perpetuação da espécie humana. Se para algumas tribos isso tem um sentido que beira o sagrado, por essa mesma razão, ao longo da história da civilização a mulher foi subjugada. Como se não bastasse usar e abusar da violência para domar e transformar as fêmeas em mercadorias, o status letrado masculino passou a decidir inclusive o modo em que a mulher deveria dar a luz. Numa dada época em que só os homens faziam medicina, foi determinado que as mulheres deveriam ser levadas para parir em um lugar estranho, cheio de gente estranha, doente e fria. Novos instrumentos de tortura, como o fórceps, foi inventado para mostrar quem estava no comando, sobretudo se a mulher ousasse dificultar o trabalho desses nobres doutores.

O tempo passou e a sociedade se tornou mais justa (será?), mas o parto hospitalar prevaleceu como o único merecedor de confiança.  Embora algumas mulheres tenham conquistado novos espaços, na medicina inclusive, a lógica masculina ainda dita os protocolos ligados ao parto, como, por exemplo: banalizar a perda de um filho, principalmente quando ele acontece antes do terceiro mês de gestação. Por exemplo, a alta incidência de casos e a falta de sensibilidade dos profissionais de saúde mantém, na mesma ala de uma maternidade,  uma mulher que acabou de dar a luz ao seu filho e uma mulher que vive a dor de um abortamento. Esses profissionais ainda não aprenderam que quando o aborto acontece, mesmo no início da gestação, a dor é como de um parto às avessas: é para dentro que vão as sensações que essa mulher nutria desde a infância, quando, ao brincar de boneca, o potencial materno foi solidamente construído naquele incrível imaginário infantil. Se a descoberta de uma gravidez havia aflorarado esse potencial e recriado toda sorte de expectativas,  a ruptura do sonho trouxe a sensação de medo, vazio, insegurança, impotência...

Mas, por experiência própria, descobri que a mulher é capaz de transformar essas sensações desesperadoras em força. Caso seja dado a ela a chance de gerar ou adotar, a maternidade pode trazer uma nova dimensão sobre ter filhos: descobre-se que não é algo que não é tão fácil como parece. É possível que os filhos dessas mulheres, adotivos ou biológicos, ganhem de presente mães ainda mais sensíveis. Elas saberão valorizar cada sorriso e avanço no desenvolvimento e adorarão dar o que seus filhos mais precisam: amor e limite porque sabem que eles precisarão disso para que se tornem pessoas de bem.  Aqueles filhotes que não vieram ao mundo, são capazes de ensinar muito. É uma pena que o universo médico não aprenda!

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