segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O papel da família no encantamento pela leitura

Ninguém pode se orgulhar dos níveis do analfabetismo no Brasil, mas estamos tão acostumados a reclamar desse problema que poucos de nós nos perguntamos o que podemos fazer para mudar esse quadro. Eu suspeito que se as famílias assumissem esse problema com ternura e bravura, estaríamos em posição privilegiada no ranking de melhor rendimento escolar no mundo. Felizmente temos uma literatura de altíssima qualidade, inclusive de autores consagrados brasileiros e estrangeiros que já tiveram suas obras traduzidas. Esses livros podem ser uma vacina eficaz, não apenas para combater o analfabetismo, mas muitos outros problemas de aprendizagem que, muitas vezes se arrastam até a universidade.

Uma criança que lê ou tem quem leia para ela e tem acesso à histórias maravilhosas provavelmente será picada com a mosquinha do encantamento pela leitura que desencadeia um sintoma clássico: o desejo de investigar, descobrir, navegar, explorar coisas novas. Mas infelizmente poucas crianças têm acesso à literatura de qualidade e quando tem, nem sempre fazem bom uso dela. Então, imagina se os livros que já foram comprados e estão esquecidos em uma estante ou no porão, começassem a circular. Cirandas de livros na escola é uma boa iniciativa. Separar um cofrinho para adquirir bons livros e garantir aos pequenos uma valiosa biblioteca recheada de maravilhas da literatura infantil vale a pena. Mas pouco resultado se obtém nessas empreitadas se esse livro chegar em casa e não for degustado com prazer, de preferência em família.

A escola tem um papel inegável na alfabetização, mas nada se compara ao resultado quando esse trabalho conta com a parceria da família. Não há método de ensino que se compare com essas cenas:

  • um pai e a mãe aparecem sorrindo no quarto com um bom livro para ler quando o filho ou a filha já está na cama;
  • a avó coloca o neto ou a neta no colo para ler uma boa história; 
  • o avô acompanha com interesse a lição que a criança está fazendo e conta para ela algo instigante relacionado ao que está no dever;
  • um tio ou tia leva os sobrinhos para uma exposição e lê com as crianças algumas informações relevantes sobre as obras, 
  • um padrinho ou madrinha procuram em listas como essa  e escolhe algum livro para trazer de presente e chega assim, de surpresa, disposto a viajar na história; 
  • um vizinho traz um livro bom pra emprestar porque o filho leu e amou... 

Enfim, quanto todos se movem para garantir não apenas o acesso, mas a expedição ao que é narrado e ao mesmo tempo, encoraja a criança e o adolescente a criar novas histórias, recontar, misturar, remeter uma ideia dentro da outra... isso muda, talvez não o mundo, mas certamente essa criança porque dará a ela uma visão de mundo mais rica, ampliando suas conexões e permitindo que ela ganhe autonomia, auto confiança e uma bagagem privilegiada em um país com tantos analfabetos. Essa criança pode também adquirir noções de responsabilidade que despertará nela o desejo de compartilhar o que recebeu. Assim, ela passará a ser doadora de livros fascinantes, leitora em instituições onde há pessoas ávidas pelas histórias, enfim, ela estará fazendo novos amigos.

Você pode não ter uma família grande e generosa. Talvez tenha sérios problemas financeiros que impeçam a aquisição de bons livros com a frequência que você gostaria. Na sua cidade pode não haver biblioteca pública. Mas o que não pode é achar que por isso nada se pode fazer. Com criatividade, disposição e amigos a sua criança também vai ser picada por aquela mosquinha e vai se destacar.

Para crianças que não possuem uma situação financeira privilegiada, criamos o projeto "Livros Fascinantes" e estamos recebendo doações - atenção: apenas de livros fascinantes. Caso você queira participar dessa revolução, faça contato. Se puder, compartilhe esse texto e estimule as pessoas a assumirem pequenos gestos generosos, porem transformadores, como os descritos aqui.

Nenhum comentário: