quarta-feira, 18 de junho de 2014

Mutilados

"Todo mundo ama, todo mundo chora... e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz."
                                                                                                              Renato Teixeira


A França possui um dos mais altos índices de suicídios do mundo. Uma cidade simplesmente linda, com invejável solidez nos direitos trabalhistas e na qualidade de vida deveria ter gente mais feliz.

Pensar sobre isso me fez lembrar de uma aluna que recentemente publicou uma foto em que levava a crer que ela havia feito cortes em diversos locais de seus braços. Transitando pelas quadradas ruas de Paris, onde apesar de estarmos no verão, o frio cortava a pele, contemplando seus castelos, fiquei pensando nos motivos que leva uma menina linda, que também vive em um mundo de fantasias, a mutilar o corpo? Seria a dificuldade de aceitar quando alguém lhe nega um objeto de desejo? Seria a imaturidade que a fixa em um lugar restrito onde ela não consegue enxergar muito adiante? Seria uma tentativa de deixar de ser invisível? Ou teria ela perdido algo tao importante que decidiu sinalizar na carne que a vida não faz muito sentido?

Como fazer com que essa menina e tantas outras pessoas, inclusive os franceses, se vejam como pessoas que valem mais do que um capricho, mesmo quando é algo importante como um emprego? Como fazer com que elas saiam de seus quarados e percebam que um não pode ser uma oportunidade de conquistar algo maior no futuro e que o sentido da vida é simplesmente seguir em frente, sem pressa?

Um comentário:

Beto Ribas disse...

O rapaz era apaixonado e a linda moça nem ligava pra ele. Nem sabia que ele existia. Ela gostava de coisas que ele não conhecia ou não podia obter para estar ali, ao lado dela. Ele era sem graça. Só falava quando deixavam. Tinha medo de ser ou dizer algo que pudesse expô-lo ao ridículo. A moça, muito pelo contrário, era muito bem relacionada. Seu círculo de amizades continha de atletas do grupo escolar a professores de artes e línguas, além dos mais populares e ricos da cidade. Enquanto caminhava, tinha sua trajetória rastreada pelos olhos hipnotizados dos homens ambiciosos, que a queriam como prova de poder e superioridade e das mulheres invejosas, que se pudessem exilavam-na em um poço sem fundo, onde ninguém pudesse ouvi-la rogando por socorro.
Duas vidas ligadas pela paixão e...suicídio.
Ele suicidou-se pois acreditava que sua vida sem importância jamais faria falta em um mundo tão diferente do seu, tão obcecado pelos padrões excelentes de comportamento e beleza os quais ele jamais teria competência de atingir. E para sacramentar sua decisão, a certeza de que ela jamais o amaria, pois nunca percebeu sua presença, sua paixão.
Ela suicidou-se por acreditar que tendo de tudo e não havendo nada que a estimulasse, sua vida perdia todo o sentido, afinal o tédio andava de mãos dadas com os seus sentimentos mais ocultos. Tudo o que queira, ela tinha. Todos a queriam e para isso fariam o que fosse necessário para tê-la, cultuar sua beleza e usufruir do troféu da perfeição aos olhos de ver. Assim, ela tinha tudo. E não tinha nada. Ela queria se apaixonar, mas não conseguiu.
A morte foi o consolo de quem não tinha nada...e de quem tinha tudo.
A ilusão os matou...
Todo o tempo do mundo é necessário para viver... e se apaixonar.