sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Eternamente adolescente

Para ser professor de adolescente tem que gostar de gente ousada, criativa, questionadora, atrevida. Trabalhar com a adolescência é lidar com mudanças, ainda mais hoje quando a velocidade dessas transformações é ainda maior. Para superar os momentos mais dramáticos, vale lembrar de quando vivíamos essa fase e quando já não era fácil lidar com as pressões que partiam das mais diferentes direções.

Se por um lado a maioria das escolas oferecem ao educador o desafio de encarar turmas com mais de trinta adolescentes, os diretores da escola e a família esperam desse educador um controle de turma incompativel com o perfil do adolescente contemporâneo. Até porque, parte dessa clientela chega de casa extremamente mimada e outra parte traz sinais de abandono - moral inclusive.

Mas entre a superproteção e o abandono existe uma tênue zona que dificilmente os adultos se arriscam. Cabe a nós professores surfar nessa onda radical. Se agarrar à antigos padrões de controle de turma não é o que garantirá o equilíbrio que precisamos para conquistar o respeito desse grupo. Por outro lado, se, com medo de demissão  não nos posicionamos, nossa consciência lembra que o adolescente precisa de limite. Se, na tentativa de afinidade com a turma, incorporamos os vocabulários e os vestuário impróprios para maiores, assumimos o risco do ridículo. Quando usamos de arrogância para revelar a nossa autossuficiencia, o máximo que expomos é a nossa impaciência, imitando o que mais nos irrita nos nossos alunos: o perfil de donos da verdade dos que querem tudo pra ontem.

Dar conta do pensamento fragmentado dos adolescentes e tornar as aulas interessantes - sobretudo quando esse sujeito tem acesso pleno à tecnologia, inúmeras viagens e muitas informações - parece um desafio inatingível. Mas até para eles, nada parece mais chato do que a passividade.

Algo que funciona bem com os meus e quero dividir com vocês: sempre que possível incentivo a expressão artística dos meus alunos e procuro envolver o grupo em campanhas, competições, trocas de experiências, exposições... A arte liberta, concentra, desperta a auto-estima. A produção que os meus alunos e as minhas alunas costumam apresentar me enchem de orgulho e permitem que eles se descubram também. Nas campanhas, esses meninos e essas meninas que crescem vertiginosamente percebem que há algo além do umbigo. Ufa!

Mais eficaz que aspirar a organização é encontrar meios de aproveitar a energia desprendida dessa faixa etária. Quando mobilizamos esse grupo em uma causa, redescobrimos a sala de aula como um lugar diferente, com pessoas capazes de render mais. A pausa nas criticas permite que o adolescente elabore novas referências sobre os educadores e seus pares. Uma relação de confiança permite enfrentar um medo terrível para o adolescente: o preconceito. Esse sentimento atinge também o educador que traz pronto um modelo que nem sempre coincide com o que será encontrado em sala de aula. Que tal alunos e professores se abrirem para diferenças e possibilidades?


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